quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

SÉRGIO CABRAL, AS MILÍCIAS E O TRÁFICO DE ENTORPECENTES.


Sei que não é comum fazer-se transcrições inteiras de textos de outrem, mas, na presente postagem tal se justifica pelo simples fato de ser de autoria do imbatível e infalível jornalista Hélio Fernandes da Tribuna da Imprensa. Para os mais jovens, aproveitando seu gosto pelas consultas ao "oráculo" de São Google, sugiro que pesquisem, ou, por outra, corram os olhos, sobre a biografia riquíssima deste corajoso jornalista (sem comparação...e que me perdoe o Sr. Dines), cujo jornal que comandou durante décadas, fundado por Carlos Lacerda, fechou há alguns meses. Na verdade, "foi fechado" por um comportamento inoperante e suspeitíssimo do poder judiciário brasileiro (as minúsculas são propositais). O mesmo PODER judiciário que é ágil e hábil em favorecer banqueiros imundos, corruptos e corruptores...e em perseguir os juízes sérios que os condenam.
A matéria a seguir foi publicada na Tribuna da Imprensa ("on line") cuja leitura diária, além de não me furtar, me obrigo e recomendo a todos os que pretendam entender as mazelas de nossas Terras de Santa Maria.É tema importantíssimo, explanado com os detalhes que a "mídia pré-paga" (os jornalões) omite e distorce de acordo com as vantagens, favores e pecúnias que recebe.É o que segue:

TRIBUNA DA IMPRENSA

terça-feira, 29 de dezembro de 2009 | 07:00

Sérgio Cabral fez acordo com as milícias para garantirem a segurança do Panamericano. Agora se acerta com os “barões da droga”, e retumba: “AS FAVELAS LIVRES DA DROGA”

Existem favelas em muitos países, os mais diversos. A primeira vez que fui à Venezuela, em plena ditadura militar, aqui estávamos com ditadura civil, ou seja a de Vargas, (é tudo igual) fiquei impressionado. Você desce em Caracas num aeroporto redondo e assustador, (como só veria depois em Fernando de Noronha), mas a visão mais impressionante é da enormidade das favelas.
Depois, em outras viagens, principalmente Jamaica, Haiti, Panamá, essas favelas estavam sempre presentes e os governos consideravam e acreditavam: “Não há solução”. Parecia que não havia mesmo, tanto que a rotina passou a identificar os morros e as favelas, como “PODER PARALELO”. Na verdade, governadores e prefeitos incompetentes, imprudentes, incapazes é que deveriam merecer a identificação de PODERES PARALELOS.

Nos anos 70/80 com a chegada da droga, aí a situação se complicou por duas fontes ou vertentes. 1 – A montanha de dinheiro que circulava, elevando os traficantes à condição de superpotências. 2 – Quem paga quer obediência, vassalagem e subserviência. E como os bandidos pagam muito melhor do que os governos, se tornaram donos de tudo.

Não se pode exigir daqueles que ganham salários miseráveis, que se mantenham éticos e corretos combatendo de forma inferior, sem saber se voltam para casa. Nem é corrupção, corrupto é o governante que EXIGE fidelidade e correção, enquanto aumentam desmesuradamente, desmedidamente, desumanamente, suas contas bancárias, à prova de sigilo, fiscalização ou verificação.

Só que hoje, com 2009 acabando, e praticamente entrando no ano eleitoral e presumivelmente sucessório de 2010, queremos desvendar a realidade que ainda persiste nas favelas e desmentir autoridades e jornalões, que contam ao cidadão-contribuinte-eleitor uma história mentirosa, enganadora, distante, mas muito distante mesmo, do que continua acontecendo.

No Dia de Natal, O Globo publicou com estardalhaço e sem o menor respeito pela investigação, matéria a respeito da “modernização” das favelas, e da eficiência da nova ordem. Título: “ESTÁ TUDO DOMINADO”.
E no subtítulo, aproveitando para mistificar mais ainda. Textual no jornalão: “Todas as favelas da Zona Sul estão sob controle da Polícia e livres dos traficantes e da criminalidade”.

Apesar da preocupação elitista de acabar (?) primeiro com as favelas da Zona Sul, está tudo errado. Não existe o mínimo de correção na afirmação, como mostraremos a seguir.

Primeiro, porque ainda faltam diversas favelas na Zona Sul que nem foram tocadas, e isso ficou demonstrado pelo próprio O Globo, que poucos dias depois noticiou a “ocupação” das favelas dos Tabajaras e dos Cabritos (ambas na Zona Sul) pelo Bope. Outras comunidades da Zona Sul, como Cerro Corá, Pereirão, Morro Azul , Júlio Ottoni (Rua Alice) e Gávea, por exemplo, continuam desprezadas pelas autoridades “ocupativas”.

Segundo, porque não é verdade que o tráfico tenha sido interrompido nas favelas da Zona Sul que já estão supostamente sob controle da PM. O que existe é um inaceitável, inacreditável e inviável acordo com os traficantes, consumado pelo próprio governador Sérgio Cabral Filho.

Quando houve a recente “ocupação” dos morros do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, Cabral veio a público para informar que tinha dado “um prazo de 48 horas” para os traficantes saírem dessas favelas. E eles teriam saído. Será?

Na verdade, o governador, que já fizera acordo com milícias e tem experiência no ramo, apenas combinou com os traficantes que eles continuassem a operar, mas sem estardalhaço, sem aparentarem dominar os morros, sem afrontar os policiais que passariam a circular por lá, e sem incomodar os moradores.

Os traficantes, agradecidos pelo salvo-conduto oficial e pela “legalização” de suas atividades, logo aceitaram, porque fica muito mais barato para eles, que não tem que seguir gastando dinheiro para manter as legiões de jovens “soldados do tráfico” nem com mais armas e munição.

Se o tráfico tivesse realmente parado nas favelas que estão “ocupadas”, haveria engarrafamento de drogados no Cerro Corá, no Pereirão, Morro Azul e outros pontos permanentes de tráfico. E isso não está acontecendo, como até os paralelepípedos das ladeiras sabem muito bem.

Os traficantes estão às gargalhadas com as trapalhadas do governador e do prefeito. Como já dominavam a tecnologia do celular, comandando tudo de dentro de penitenciárias a centenas de quilômetros de distância, avançaram nesse setor.
Como provavelmente o Serviço de Inteligência não informou ao governador ou ao prefeito, vou fazer a revelação: os traficantes já experientes com o sistema GPS, continuam roubando carros, imprescindíveis. Usam principalmente o Estácio, Rio Comprido, e saída da Linha Amarela ou perto da Maré.
Ao roubar o carro, mandam o motorista sair do veículo, perguntam: “Tem GPS?”. Se a resposta é afirmativa, dão um tiro na cabeça do motorista, incendeiam o carro. Se a resposta é negativa, mandam o motorista ir embora e ficam com o carro.
* * *
PS – Para terminar e como tem tudo a ver: o prefeito telefonou para Lula, “desejando bom Natal e Ano Novo”. Esqueceu que já chamou o presidente de “chefe de gangue”. Lula “generoso”, aceitou os cumprimentos.
PS2 – Desculpem, não consegui saber se Cabral telefonou. Mas é lógico que falou e prometeu subir de costas os 365 degraus da igreja da Penha, se Lula atendesse. Vai subir.
(os negritos são meus).


E um feliz 2011 a todos...já que 2010 já está aí e nada, absolutamente nada, mudou!

Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2009.

Prof. Haroldo Lemos.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Professor Haroldo e o Pedro II


O Professor Dr. Haroldo Nobre Lemos participa do documentário em comemoração aos 25 anos da Associação de Docentes do Colégio Pedro II (ADCPII), onde leciona desde 1981. O Colégio Pedro II é uma tradicional instituição de ensino público federal, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Foi fundado ainda na época do período regencial brasileiro, em 1837.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

SOBRE MÉDICOS E PROFESSORES


O texto que segue é uma resposta a alguns colegas professores e médicos que, vez por outra deparam-se com situações estapafúrdias e imperdoáveis,envolvendo ambas as profissões cujo caráter sacerdotal ainda é citado de modo saudosista por muitos, como a justificar erros através da falta desta tal "vocação sacerdotal".Numa dessas reuniões de colegas e amigos, recentemente, alguém bradou que "há uma crise generalizada de formação superior no País".De pronto, alguém disse "que todo o prblema da saúde e da formação em geral, repousava na área da educação". Claro que, diante da abrangência do tema as conversas vararam a madrugada, até o ponto em que o "nível de sangue na corrente alcoólica" já não permitia raciocínio lúcido. Daí o tema continuou sendo discutido por via que particularmente detesto, mas que se mostra mais rápida e menos etílica...o correio eletrônico, donde o texto abaixo que, para nosso desespero, não se desatualizou.

SOBRE MÉDICOS E PROFESSORES
Quarta-feira, 6 de Maio de 2009 6:52

Caríssimos amigos e colegas

Os que comigo convivem há mais tempo sentem que já se tornou enfadonho meu discurso sobre a questão educação-medicina. Isto mesmo, são uma só questão cuja similitude dos avanços e retrocessos em nosso País já se tornaram rotineiros e são passivamente absorvidos pela população. Cursei a cadeira de pedagogia médica durante meu doutoramento e lecionei, ao longo do caminho, para turmas de medicina,biologia, odontologia, enfrmagem e fisioterapia, na UFRJ e na Universidade Gama Filho. Tive a oportunidade de conversar por anos com colegas professores-médicos em ambas instituições. Daí a cantilena com a qual aborreço muitos dos meus amigos. É o que segue:

1- Houve época em que havia um único ministério para saúde e educação, pois não se concebia que as duas coisas pudessem ser dissociadas. Salvo engano, foi no governo de Getúlio Vargas, na década de 1950.

2- Tanto a saúde como a educação são temas recorrentes em todos, absolutamente todos, os discursos de palanque de parlamentares em campanha.

3- Os currículos das universidades privadas, em sua maioria, são elaborados de modo que dificultem, até onde for possível, a transferência de um aluno para outra instituição de ensino superior. E isto se agrava quando o aluno sai de uma universidade privada para uma pública.

4- As bibliotecas das universidades privadas, no que tange à área médica, são absolutamente desatualizadas. Desafio alguém a me indicar uma única que disponha de meia dúzia de um desses títulos em edições recentes : The Cell (Alberts et al) ou sua tradução em língua portuguesa, Biologia Molecular da Célula; Virology (Fields), são dois volumes sem tradução e constituem a "bíblia" da virologia; Bases Farmacológicas da Terapêutica (Goodman e Gilman), Bioquímica (Lehninger), Imunologia Básica e Clínica (Stites et al), há muito já traduzido...e por aí vai. Eram esses alguns dos que eu indicava ao início do semestre. Todos caríssimos para a maioria dos alunos.

5- Assinatura de periódicos tais como : JAMA (Journal of American Medical Association) , Lancet, Journal of Virology, A Folha Médica,Nature, as revistas das sociedades científicas brasileiras, do CNPq etc...nem pensar!

6- São alunos universitários de ciências biomédicas que estudam em cadernos, em cópias xerox de capítulos de livros defasados e, o que é pior, em "sites" da internet. A maioria não entende com perfeição um artigo científico em língua inglesa, isto é, nem do abstract da publicação conseguem depreender o tema abordado e constatar se é, ou não, do seu interesse e o gau de importância da publicação.

7- Mas os IBEUs, as Culturas, CCAAs, os Wizards e Wises estão aí mesmo...riquíssimos.

8- Quase todos os alunos trazem sérias deficiências do ensino secundário; a estas adicionam outras oriundas do curso superior; depois vão tentar supri-las nos cursos de "pós". Quando fiz minha "pós" (Especialização, em 1978, na UFRJ), o curso teve 1.520 horas. Há tempos não passam das 360 horas-aula (pouco mais de 400 horas corridas) exigidas pelo MEC.

9- Uma vez "formados" e já com uma série de vícios adquiridos ao longo dos anos nas faculdades-shoppings-centers, têm que arranjar cargos e empregos. Isto mesmo, são coisas diferentes do ponto de vista jurídico-administrativo. Daí conseguem, através de concurso, uma matrícula pública para ganhar um salário ridículo. É o cargo...que paga pouco, mas tem estabilidade, quer dizer, nunca demite...mesmo! E tem que arranjar um (ou mais) empregos, a fim de quê,os ganhos somados, justifiquem tanto tempo e dinheiro investidos. Qualquer semelhança com as carreiras não biomédicas não é mera coincidência.

10- Alguns tornam-se empresários da miséria humana, fundam associações que dão à luz: cooperativas e aos insalubres "planos de saúde". Só a questão das cooperativas, quer de médicos, quer de docentes, já constitui tema para muita discussão, apreensão e investigação...POLICIAL!

11- Notaram a semelhança entre médicos e professores quando o assunto é a remuneração do trabalho? Tem que ter três ou cinco empregos, com um cargo no meio deles (matrícula pública) para ter uma vida decente, tornando indecente a vida de quem precisa desses profissionais.

12- E por fim,temos os resultados obtidos pelo CRM (Conselho Regional de Medicina)do estado de São Paulo que aplicou, em 2008, um teste de aptidão básica em 15.000 alunos voluntários recém-formados. A aprovação não chegou a 30%! E tome USP, UNICAMP etc. Daí esse órgão estar a exigir providências do CFM (Conselho Federal de Medicina) e do MEC para ser obrigatório um exame de aptidão em recém-formados, nos moldes do que faz a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)que, nos últimos cinco anos, vem reprovando mais de 89% dos bacharéis. O Sindicato dos Médicos jamais o permitirá.

13- Ainda hoje foi divulgado que face os pífios resultados que vêm sendo obtidos no exame da OAB, por bacharéis em direito, em todo o País, as faculdades e universidades terão de aprovar mais que 30% de seus egressos. Caso contrário, poderão ficar até dois anos sem terem seus exames vestibulares aprovados pelo MEC. O passo seguinte seria o descredenciamento do curso, pelo MEC...que não ocorre de forma nenhuma. Por que? Porque há lobistas que “remuneram” os representantes do MEC nos estados (os antigos Delegados do MEC) para que tal não ocorra. A Profa. Portugal, ex-delegada do MEC em São Paulo, à época de Fernando Henrique (Presidente) e Paulo Renato Souza (MEC), ficou famosa nesta "área de atuação".

14- É verdade que a crise de formação é geral. Mas quando se trata de formar pessoas cujo material de trabalho é o ser humano... que é filho, marido, irmão,esposa, mãe, pai, amigo de outros seres humanos, há que se ter muito esmero e dedicação.

Nesse ponto já não sei se estou me dirigindo aos médicos ou aos professores. Este tema já me cansa...há anos...mas as vítimas continuam aparecendo. Acabam quase sempre muito pranteadas e lembradas...mas nunca voltam!

Um grande abraço.

Haroldo.

domingo, 29 de novembro de 2009

MAZELAS DE VERÃO (1)


Com a chegada do verão chegam também suas mazelas tropicais, sendo a que mais se destaca, em termos de saúde pública, a dengue. O texto abaixo é uma resposta a uma mensagem eletrônica que me foi enviada pela Profª. Dra. Denise Mano Pessoa (Colégio Pedro II e PUC/RJ), arguindo sobre a existência de uma possível vacina para dengue elaborada pela “famosa” medicina cubana. O texto é de maio de 2008, mas como as autoridades nada providenciaram em se tratando de prevenção e controle desta virose, permanece atual. É o que segue.


“Cara Denise

Antes de tudo sou-lhe muito grato pela belíssima mensagem por ocasião da celebração da Páscoa.

Mas também escrevo por conta de sua mensagem eletrônica datada de 25 de março com o impactante título: VACINA PARA A DENGUE, que prosseguiu, de modo confuso, invocando informações procedentes de uma senhora farmacêutica – homeopata - caribenha que afirma conhecer um tratamento para dengue hemorrágica. Ufa!
Essa miscelânea (vacina x tatamento da doença estabelecida) fez-me recordar da década de 1970, quando um sujeito apareceu na televisão, na “Discoteca do Chacrinha”, dizendo produzir uma infusão de ipê-roxo que era capaz de curar o câncer. Foi um verdadeiro alvoroço.

E você menciona essa tão famosa e obscura medicina cubana que cura até vitiligo no interior de São Paulo. Segundo S.Ex, o deputado Clodovil Hernandez, que é amigo da médica cubana.

Será que são esses os conhecimentos médicos nebulosos que mantêm vivo El Comandante Fidel Castro, o único “mito vivo”, segundo o Presidente Lula? E disso eu discordo frontalmente, pois a medicina brasileira também mantém “mitos vivos”. Olha aí o Cauby Peixoto, a Neyde Aparecida, o Zé do Caixão...ah, e claro, a “imorrível” Dercy Gonçalves. Esta última, na época da descoberta do “elixir-do-ipê-roxo”, mandou fazer galões dele. Deve ter bebido tudo...e o resto é história.
E por falar em História, o saudoso Prof. Dr. Paulo de Góis foi cogitado para ser preso pela ditadura diversas vezes. Numa dessas foi porque ele fez publicar, com todas as letras que “o Rio de Janeiro é uma bomba de febre amarela pronta pra explodir”. Ele já fazia referência ao espalhamento do mosquito Aedes aegypti. E isto em 1977.

NÃO EXISTE VACINA PARA DENGUE.....por enquanto! E isto posto, vamos ao que serve.

FLAVIVÍRUS

Esse gênero é composto por 73 vírus, dos quais 34 são transmitidos por mosquitos,17 por carrapatos e 22 constituem agentes zoonóticos sem vetores conhecidos, geralmente transmitidos entre roedores e morcegos.

Quarenta espécies de flavivírus têm sido associadas a doenças humanas; 42 de 34 (65%) são transmitidos por mosquitos; 13 das 17 espécies transmitidas por carrapatos podem causar doenças em humanos. E somente cinco das 22 sem vetores conhecidos (23%) causam doença humana.

A importância da transmissão por vetores artrópodos (mosquitos e carrapatos) é que deu origem à denominação ARBOVÍRUS (arthropod-born-virus) para alguns flavivírus.


OS FLAVIVÍRUS MAIS IMPORTANTES

Dengue, febre amarela, encefalite do carrapato e a meningite japonesa são as arboviroses mais importantes dadas suas elevadas morbidade e mortalidade em todos os continentes.
O vírus da febre amarela foi o primeiro a ter sua transmissão por mosquitos infectados comprovada. Isto em 1927. E pôde ser cultivado in vitro em 1932. O mesmo só ocorreu com a dengue em 1943.


VACINA

Em termos de preparação de vacina é praxe considerarmos, de plano, a morfogênese, a morfologia, a composição proteica e a estrutura do genoma viral.

Os virions (partículas virais completas) dos flavivírus consistem de um core ribonucleoproteico (RNA+ ptn) esferoidal, envolvido por um envelope lipoproteico com pequenas projeções na superfície.
Como todos os vírus envelopados (envolvidos por gordura) são altamente sensíveis aos solventes orgânicos, isto é, qualquer substância capaz de dissolver gordura. Até álcool comum.
As grandes discussões, agora, pelo que se lê das últimas publicações, residem em quais porções devem ser empregadas na confecção das vacinas; se os vírus devem ser combinados (“quimerizados”) ou não; se as vacinas devem conter vírus ativos atenuados ou se devem ser inativados.

O Depto. de Patologia do Centro para Doenças Tropicais (Univ. do Texas) referiu, em dezembro de 2001, que “embora haja aproximadamente 68 flavivírus reconhecidos, as vacinas desenvolvidas controlam pouquíssimas flaviviroses humanas. Vacinas vivas atenuadas têm sido licenciadas para febre amarela (cepa 17D) e encefalite japonesa (cepa SA14-14-2), e vacinas inativadas têm sido desenvolvidas para encefalite japonesa e com o vírus da encefalite do carrapato...O maior número de vacinas ora em experimentação e desenvolvimento são para o combate à dengue , com destaque para uma vacina tetra-valente que já se encontra sob testes clínicos.” Há, como já dito ao cimo, o projeto da vacina “quimérica” (Chimerivax) que utiliza porções antigênicas dos vírus da encefalite japonesa e dos vírus da dengue.

São muitos os detalhes acerca deste tema, de tal sorte que após um seminário de especialistas havido em Oxford, a revista Lancet, de fevereiro de 2008, assim publicou a conclusão do mesmo: “doença hemorrágica, encefalite, febre bifásica, paralisia flácida e icterícia são manifestações típicas de doenças em seres humanos após serem infectados por flavivírus transmitidos por mosquitos ou carrapatos, tais como a febre amarela, DENGUE, a febre do Nilo,a encefalite de St. Louis, a encefalite japonesa, a encefalite do carrapato, a doença da Floresta de Kyasamur e a febre hemorrágica de Omsk. Embora as características dessas viroses estejam bem definidas, ELAS CONTINUAM IMPREVISÍVEIS E VÊM INCREMENTANDO SEU GRAU DE SEVERIDADE, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INCOMUNS, MÉTODOS DE TRANSMISSÃO INESPERADOS, TEMPO MAIOR DE PERSISTÊNCIA e a descoberta de novas espécies.”

Nesse seminário os especialistas compararam as atuações clínicas e epidemiológicas com relação as flaviviroses mais importantes, considerando, particularmente, O EFEITO DA ATIVIDADE HUMANA SOBRE A EVOLUÇÃO E DISPERSÃO DESSES AGENTES VIRAIS, atentando para os novos achados, algumas questões ainda sem respostas e as controvérsias que permanecem.

E eu escrevi tudo isso por causa da minha amada Chefinha, salve-salve, e dessa tal Farmacêutica-Homeopata-“Santera”(mãe-de-santo)-cubana e suas ervas. Serão as ervas da Jurema?

Beijos , abraços e saudades,

Haroldo, em 15/05/2008."


O pior de tudo é que o verão está aí, os ovos dos mosquitos depositados há menos de três anos também, e as chuvas chegaram. E para quem só se desesperou com a “gripe do porco”, é a hora de admoestar os senhores administradores, digo, gestores públicos, sobremodo o alcaide, Sr. Eduardo Paes, que está ameaçando parar a coleta de lixo, sem aviso prévio, por 48 horas, para mostrar o quanto o carioca é desleixado com a cidade.

E tudo em nome de 2014 e 2016...isso se a profecia de 2012 permitir. Que coisa!


Prof. Dr. Haroldo Nobre Lemos.

sábado, 28 de novembro de 2009

Resenha do livro "Rádio: 24 Horas de Jornalismo"

por Maxsuel Siqueira

*Originalmente publicado em Papo Livre

Marcelo Parada, diretor de jornalismo da Rádio Bandeirantes, é o autor do livro Rádio: 24 Horas de Jornalismo, um manual amigo do estudante que deseja descobrir a linguagem do rádio.

Ao todo são 14 capítulos que vão desde “O que é notícia?” até “Como conseguir o primeiro emprego em rádio”. Tão objetivo quanto o texto no rádio, são 138 páginas no total, sendo, em média, somente oito páginas por capítulo.

Um livro para ser lido em dois dias tranquilamente. E para estar sempre acessível na hora de escrever o roteiro de um programa. Por se tratar de um guia, os tópicos podem ser lidos de forma não-linear. Mas é tão conciso que deve ser lido por inteiro.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Crítica ao filme "Boa Noite, Boa Sorte"


*Originalmente publicado em Papo Livre

Um governo vigilante no cenário pós-guerra. Terror para garantir a segurança do país. Perseguição da crítica e liberdade de expressão a um alto custo e risco. Este é o ambiente de “Boa Noite, Boa Sorte”, filme que retrata um período da história norte-americana no qual se revela a importância social do jornalismo engajado no combate à censura, pela liberdade de expressão.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O Rio de Janeiro e a Violência


*Originalmente publicado em Papo Livre

Olá, pessoal!

Uma amiga virtual chamada Rose me perguntou pelo facebook se a violência no Rio de Janeiro é tão assustadora quanto como é retratada pelos meios de comunicação em geral. Ela é brasileira, mas vive em Londres há um certo tempo. Para não responder com um simples (indelicado, preguiçoso e irresponsável) "sim" ou "não", aproveitei o ensejo para discorrer sobre o problema e transformar minha resposta numa postagem que poderá servir para outros que tiverem a mesma dúvida e que desejarem conhecer melhor a cidade, sob o ponto de vista de alguém que vive aqui. Reproduzo, portanto, minha resposta.

sábado, 31 de outubro de 2009

Barebacking Party - A Festa da Morte


por Professor Dr. Haroldo Nobre Lemos

Um amigo perguntou-me se eu tinha conhecimento do significado da expressão de língua inglesa bareback. Expliquei-lhe que a palavra é bastante conhecida dentre determinados grupos sociais e que significava sexo sem camisinha. Nada além disso.

Na verdade a expressão idiomática em tela provém do meio-oeste norteamericano onde os rodeios são parte importante da cultura daquela região. E mesmo aqui, nas terras de Santa Maria, bareback quer dizer “montar a pelo”. Claro que a tradução literal é “costa nua”, no caso, as costas (dorso) de um cavalo de rodeio.

A galera do meio gay – já que homossexual é um termo em desuso, talvez por ter uma conotação clínica e excludente – utiliza muito tal locução.

Todos os dias o mercado “porno-fono-áudio-gráfico” produz toneladas de material, fazendo girar algo em torno de um bilhão de dólares/ano mundo afora. Só perde para o narcotráfico e o mercado clandestino de armas.

Os recém-adotados (pela União Europeia) primos pobres do leste europeu têm fornecido farto “material juvenil” para tais produções. O estrondoso sucesso da produtora Belami, que explora as beldades masculinas oriundas de famílias arruinadas, desesperançadas em economias problemáticas e com futuro incerto, lá no leste europeu, vem faturando milhões de dólares desde a queda do muro de Berlim.

Acontece que a pele alva, a beleza física, quase axênica, e “angelical” dos rapazes da Belami e congêneres começaram a perder a graça ao final da década de 1990. E por quê? Pela mesma razão pela qual as produtoras, modo geral, vinham perdendo mercado: a presença da CAMISINHA.

É com muita facilidade que se encontra na grande rede filmezinhos caseiros onde os protagonistas são casais de namorados ou mesmo cônjuges oficializados que vendem alguns minutos de sua vida íntima, com riqueza de detalhes, por algumas centenas de dólares que podem pagar o aluguel, ou incrementar o fornecimento de calor para os gélidos pardieiros eslavos em que muitos passaram a viver após o desfazimento da União Soviética.

O ponto atraente para o público e sempre posto em destaque pelos anunciantes do produto é o bareback. E, principalmente, se ocorre entre amateurs. Não fosse isto verdade, este procedimento não teria ultrapassado as telas dos monitores e se transformado em comunidades muito reais (nada virtuais) de pessoas que passaram a fazer da prática bareback um verdadeiro “estilo de vida sexual”; uma assumidíssima “roleta russa” onde é tabu falar-se em doenças sexualmente transmissíveis como algo danoso. Sobremaneira a AIDS. Contaminar-se é quase um prêmio, um ato supremo de entrega ao prazer desmedido, afrontando um “sistema autoritário” que determina o uso de preservativos no ato sexual.

Não posso me furtar de perscrutar estas comunidades no Orkut. Não que esteja a me justificar, pois tal seria desnecessário. Mas, necessário se faz ter conhecimento do que nelas é discutido. É tudo muito assustador. E delas já têm conhecimento os grupos de orientação em Saúde Pública que se esforçam para conscientizar as pessoas sobre os riscos de manter relações sexuais sem preservativos.

Na Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz – RJ) há um grupo de pessoas abnegadas e de mente aberta, coordenadas pelo brilhante infectologista Prof. Dr. Jorge Eurico Ribeiro, que adentram tais comunidades, mantendo uma sã distância física de seus integrantes. Após ganharem-lhes a confiança (o que muita vez significa participar de festas onde todos circulam absolutamente nus) tentam uma abordagem educativa com o fito de conscientizar estas pessoas dos riscos de uma “festa bareback” (barebacking party). Desconheço se este procedimento, em termos educativos, preventivos e epidemiológicos, tem logrado o sucesso esperado, uma vez que ainda é recente o desenvolvimento desse importantíssimo trabalho (ver Jornal do Brasil de 06/01/2009, pg.A-15, JB Cidade)

Pelo que vejo na grande rede, parece que ainda há muito a fazer em termos de informar aos mais informados. Sim, porque os tomadores desta “atitude bareback” não são ignorantes no assunto DST/AIDS. É quase impossível alguém de classe social mediana (grupo predominante dentre os barebackers) ser desinformado quanto à importância do uso de preservativos. Quando não possuem seus próprios computadores portáteis ou de mesa, vão para as casas comerciais que alugam os computadores por algumas ou até muitas horas. Isto sem falarmos dos computadores das universidades, ambientes de trabalho etc.

O que mais me chamou a atenção como virologista foi descobrir o significado do vocábulo “vitaminado” dentre estas pessoas. Numa dessas comunidades bareback um suposto jovem faz um longo depoimento de suas peripécias sexuais dentro de um cinema na cidade de São Paulo. Após relatar ter sido penetrado mais de seis vezes numa única noite no cinema, incrementa os ânimos do barebackers ao relatar que, a certa altura, um elemento ativo prestes a alcançar o orgasmo, pergunta ao jovem se ele gostaria de receber “leite vitaminado”. O rapaz assentiu, já que naquele momento de enlevo prazeroso pensou em vitaminas verdadeiras, quer dizer, sua mente o remeteu a um parceiro saudável, vigoroso, vitaminado etc. Só alguns dias depois descobriu que “leite vitaminado” é esperma de elemento soropositivo para HIV. Portanto, o sujeito era um portador do vírus da AIDS que o “presenteou” com a peste.

Entre os barebackers este elemento é conhecido como gift donner (doador de presente). Nas tais festas bareback, a descoberta por um dos membros do grupo de sua soroconversão, isto é, de ter passado de HIV- negativo para HIV- positivo, é motivo de especial comemoração, tal como um rito de passagem ou uma festa de debutantes.

Não pretendo adentrar aqui na questão biopsicossocial da orientação sexual. Primeiro: não sou especialista em sexualidade; segundo: não vem ao caso. Do que falo aqui é de um comportamento social ruinoso, de uma atitude diante da vida (e da morte), que um grupo, numericamente nada insignificante, vem adotando em tempos de PANDEMIA DE AIDS.

Para alguns é roleta russa mesmo, daí a emoção. Para outros, uma espécie de vingança ou afronta ao establishment. Outros ainda pensam que tomando os antirretrovirais poderão viver eternamente como se cura já houvesse. Daí a demanda cada vez maior de filmezinhos com destaque bareback.

E não pensemos que tal comportamento é apanágio dos gays, pois tais comunidades incluem homens e mulheres hetero e bissexuais.

E que me perdoem o Papa, os pastores, “bispos” e deputados protestantes, católicos neo e veteropentecostais, os puritanos ofendidos e toda a sorte de pseudomoralistas e hipócritas de plantão quando reafirmo com todos os “efes” e “erres”:

CAMISINHA SEMPRE!!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Poder do Twitter na Comunicação



Por Maxsuel Siqueira

Neste vídeo, William Bonner conta como entrou no Twitter, o microblog mais famoso da internet, e suas impressões sobre o poder de comunicação desse recurso de postagens. Ele disse que, a princípio, cadastrou-se para receber informações sobre as eleições no Irã, quando o microblog destacou-se como importante fonte mediadora da imprensa internacional.

Para Bonner, um misto de curiosidade e necessidade. Após isso surpreendeu-se com o alcance da ferramenta ao promover o lançamento do livro "Jornal Nacional - Modo de Fazer". Desde então vem divertindo-se com a interação do tuiteiros e declara: "a vantagem é poder me mostrar de uma maneira um pouco (ou muito) diferente da que me apresento profissionalmente, no Jornal Nacional".

E bota diferente nisso! Seu estilo informal e (até) humorístico faz com que muitos "followers" desconfiem de que o @realwbonner seja um fake do Bonner que conhecemos na TV Globo.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Vírus da Influenza só ataca em escolas?!


Por razões de cunho muito mais sociológico do que científico a maioria dos alunos de diversos municípios foram obrigados a esticar seu recesso escolar até o dia 17 deste mês, com a possibilidade de as autoridades reverem tal decisão e, conforme o andar da carruagem, determinar um prolongamento do mesmo até setembro.

Na verdade tal decisão não muda absolutamente nada no que concerne à epidemiologia da gripe A (H1N1) que a TV Globo, seguida das outras de menor audiência, insiste em chamar de “gripe suína”. Mas atende ao desespero provocado principalmente pela contra-informação prestada pela mídia, modo geral. Há que se fazer justiça com a Rede Bandeirantes que no programa “Roda Viva”, de 26 de junho de 2009, promoveu um verdadeiro inquérito aos cientistas envolvidos na prevenção e controle de doenças, com ênfase na gripe A (H1N1). Destacou-se neste programa o experto Dr. Isaias Raw, presidente da Fundação Instituto Butantan que desmistificou tudo o que a mídia vem apregoando de modo irresponsável.

Frisou o cientista de muitas décadas que “as peculiaridades do vírus da nova gripe não são suficientes para causar pânico na população”, fazendo coro com outros infectologistas do calibre dos doutores Marco Aurélio Safadi (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa/SP, que sob a batuta de Antônio Ermírio de Moraes é hoje centro de referência até para transplantes e pesquisas em neurologia), David Uip (Diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas/SP) e outros. Todos, juntamente com o Ministro Temporão (Saúde) e infectologistas de todo o País referem, em uníssono, que não há razão, no momento, para alarde, e que o adiamento do início das aulas foi uma decisão precipitada.

Prova cabal de que o pânico é provocado pela mídia é o fato de ela mesma ser capaz de neutralizá-lo quando quiser e se lhe aprouver. Temos dois exemplos irrefutáveis desse fenômeno: Harry Potter e Dia dos Pais. Este último levou alguns milhões de pessoas nas duas últimas semanas, em especial no domingo passado, a lotarem “shoppings” e restaurantes.

Domingo passado (09/08) houve filas intermináveis às portas de restaurantes para onde os comensais migraram em bandos, submetendo-se a filas de até duas horas, para celebrarem o dia do papai. Se risco havia nesta orgia gastronômica era de infarto, derrame, intoxicação alimentar etc. E ninguém ligou para nada disso, muito menos para a “gripe suína”. E embora o suíno falecido se tenha feito presente em todas as churrascarias, isto não foi capaz de evocar o temor da gripe a ele atribuída. Mas o retorno às aulas continuou adiado.

Mais emblemático ainda é o caso da estreia mundial de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” que na madrugada de 14/08 levou mais de meio milhão de pessoas (564 mil), adolescentes e seus pais na maioria, aos cinemas, dentro de “shoppings” nas mais das vezes, em todo o País, fechando o dia mundial de lançamento com a impressionante cifra de 104,03 milhões de dólares. Nos EUA o faturamento nos cinco primeiros dias atingiu 159,7 milhões de dólares. No “UCI New York City Center” que, apesar do pomposo nome norte-americanizado fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro, reuniram-se 1.060 pessoas nessa madrugada.

A GAROTADA TODA CARACTERIZADA DE ALUNOS DE HOGWARTS (a escola de magia que não prorroga as férias...nem sob as ameaças sinistras de Lord Voldemort). E NENHUMA MASCARAZINHA CIRÚRGICA!!!!??? Cadê o medo da gripe que justificou o adiamento do retorno às aulas? O mesmo temor que justificou a determinação da Dra. Juíza Giani Maria Moreschi quanto à obrigatoriedade do uso de máscaras pelas torcidas do Santos e do Coritiba, na 4ª feira (05/08) durante o jogo, em Cascavel (PR). Todos usaram máscaras...NOS PESCOÇOS. Afinal, como se vai xingar o árbitro com máscara tapando a boca?

Quem perde com tal medida?

Os alunos (principalmente das séries que são “bocas de concursos”), os professores que terão que se desdobrar para levarem os conteúdos “desprogramados” a termo e os sempre esquecidos (daí continuarem excluídos) alunos pobres que dependem, literalmente, da escola para sua alimentação. Sim, eles existem...e não são poucos! Daí a observação dos jornalistas de “Carta Capital” (12/08/09; fls.34) : “Talvez eles não peguem gripe, mas certamente alguns correm o risco de morrer de fome”.

Quem ganha com o pânico?

Donald Rumsfeld...ele mesmo, o ex-secretário dos "Georges Bushes"(pai e filho), Senhor das Guerras do Petróleo (a do golfo e a do Iraque) e um dos maiores acionistas do grupo proprietário do Laboratório Roche, que detém a patente da fabricação do pró-fármaco fosfato de oselatmivir (Tamiflu). Mesmo não havendo unanimidade dentre os farmacologistas e virologistas sobre o grau de eficácia do produto (porque só se transforma em antiviral depois de processado pelo fígado quando se converte em carboxilato de oseltamivir...daí a discussão), os médicos temerosos de serem processados optam pelo que os estadunidenses chamam de “medicina preventiva”, quer dizer, “é preferível pecar pelo excesso do que pela falta”.

Resultado: a “holding” Roche que vinha amargando baixas no valor de suas ações desde 2008, viu as mesmas subirem mais de 20% quando a Organização Mundial da Saúde acendeu o nível cinco do alerta de pandemia em junho deste ano. E continuam subindo, uma vez que o mercado é fatiado e as gigantes produtoras de vacinas (GlaxoSmithKline e Novartis) só entrarão em cena no início de 2010. É como disse o conhecido infectologista britânico, Dr. Tom Jefferson ao periódico alemão “Der Spiegel” : “Há muito dinheiro envolvido; e influência, e carreiras e instituições inteiras”.

Quando o festim da vacinação começar, a União Européia estima gastar 10,5 bilhões de reais, os EUA cerca de um bilhão de dólares. Desconheço quanto o Presidente Lula irá investir nessa guerra de titãs da indústria farmacêutica, o valor que as propinas de sempre atingirão. Mas uma coisa é certa, tanto lá como aqui, os bilhões de reais, dólares e euros sairão dos sistemas públicos de saúde.

E de nada terá adiantado os alunos voltarem mais tardiamente aos bancos escolares, pois no dizer do respeitadíssimo infectologista Dr. Esper Kallas (USP): “Como outras aglomerações não foram levadas em conta (‘shoppings’, estádios de futebol, metrô etc), o impacto da prorrogação das férias vai ser mínimo”. Eu diria nulo! Aliás, todos os virologistas minimamente interessados sabem que haverá outra onda de gripe A, haja vista isto ser monitorado no Brasil e no mundo, desde 1996. O que as autoridades de saúde pública fazem com as informações é outra coisa! E como destaca o Dr. Dráuzio Varella, “...é absolutamente impossível afirmar se uma nova onda de gripe A seria menos ou mais letal”.

PS: Se alguém der uma espiadinha na postagem anterior (SOBRE MÍDIA, GRIPES E PORCOS) verá que falei das citocinas. Aquelas substâncias liberadas durante infecções virais e que fazem parte da resposta imunológica do indivíduo infectado ao vírus. Pois é, já tem médico curando paciente suspeito de estar infectado com a gripe A, utilizando cortisona. O maior dos imunossupressores!! Que coisa!

Prof. Haroldo Nobre Lemos...num de seus dias.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Fundeb financia a mídia pré-paga

Do ano passado até meados deste ano, professores e funcionários administrativos da Unidade Tijuca II do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, sofreram mais de seis meses com a falta dos elevadores. Os mesmos elevadores que conheço desde 1981 quando fui empossado no cargo de professor da Velha Casa, após concurso público. Como o régio Colégio foi fundado em 1837, é de se esperar que não faltem velhos, ou digamos, funcionários e docentes pré-aposentados, esperando pagar o pedágio do Fernando Henrique, isto é, completarem os sessenta anos para poderem se aposentar. É aí que o elevador faz falta!

No meu caso, que sou feito de carne, ossos...e seis pinos de titânio a firmar a base de minha espinha dorsal, foi um martírio. E, já que sou católico e sei que martírio significa testemunho, pensei em oferecer minhas dores ao Criador durante a escalada dos 46 degraus e quatro rampas que levam ao quarto andar, à guisa de mortificação, uma vez que, como microbiologista, sei que não devo usar cilícios (aquele cinto de arame farpado que os pacóvios sectários do Opus Dei usam na coxa). Dr. Geraldo Alckmin usou muito, desconheço se ainda usa, ou se chicoteia suas costas. (Ler “Os Silícios do Alckmin”, do Sebastião Nery). Embora médico ele não teme o tétano ou a gangrena. De certo, não é o meu caso.

E eu não era o único a sofrer, haja vista os hipertensos (também o sou) e os deficientes físicos também martirizados. Já estava prestes a comprar uma vela do meu tamanho, e iniciar a subida recitando o santo rosário, rogando pela paz no Oriente Médio, pela diminuição das queimadas na Amazônia e pela devolução do Estado do Maranhão (onde nasceu minha mãe) ao Brasil, atualmente em posse de José Sarney e família. E...quem sabe...pela conversão dos mesmos, afinal as dores que eu sentia eram tão intensas que tinha quase certeza que alcançaria tais graças.

Mas, como sou um pecador miserável e incorrigível, desisti e procurei a Sra. Diretora Geral para despejar meu “choro e ranger de dentes”. Isto foi em 02 de abril deste ano. A Sra. Diretora Geral, sempre atenta, mostrou-me o documento autorizativo do “pregão” que realizar-se-ia no dia seguinte. Faz parte do ritual administrativo para contratação desses e outros serviços. Afinal o assessor já havia me informado que o Colégio não dispunha de recursos, pois só havia “empenho”. Esta palavrinha maldita, peculiar da administração pública brasileira, ou gestão (está mais na moda), pode siginificar tudo...da danação à redenção. Em princípio, como o nome mesmo está a referir, há dinheiro previsto, não necessariamente reservado para o serviço.

E é aí que minha ignorância administrativa, ou “gestiva”, ou “gestória”...sei lá..., se manifesta de modo avassalador. Porque, como não tenho o dom demiúrgico da profecia e do pleno entendimento, e talvez por ter contraído meningo-encefalite aos 10 anos, não consigo entender como as verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que deveria atender às premências da educação básica, creches, pré-escola, ensino médio, PROEJA, etc e que está hospedado no FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) serve para engordar as contas bancárias da família Marinho (Globo), do Sr. Roberto Civitta (Veja) et caterva, NO DISTRITO FEDERAL, por obra e graça do Sr. Arruda, ou, por outra, do Exmo. Sr. Governador do DF, senador José Roberto Arruda. Quer dizer...grana para manutenção de elevador de escola não tem, só “empenho”, mas pro Sr. Arruda bancar a mídia obediente e pré-paga em ano pré-eleitoral...ah, isso tem!

Senão vejamos os dados estampados às páginas 32/34 da revista “Carta Capital”, nº556, de 29 de julho de 2009 que apontam: nota de EMPENHO, de 15 de junho de 2009, no valor de 2,9 milhões de reais (assinatura de 7.562 edições diárias do jornal “Correio Brazilense” para professores e alunos de 199 escolas do DF); nota de EMPENHO, com a mesma data, no valor de 442,4 mil reais para a Editora Abril (referente a assinatura, por um ano, da revista “Veja”, para alunos e professores do DF); contrato com a Editora Globo, de 20 de março de 2009, para aquisição de 239.200 livros “com o fito de compor acervo bibliográfico” de 620 escolas públicas do DF, a viger até dezembro deste ano.

Questionado, o secretário do Sr. Arruda, digo, de educação do DF, Sr. José Valente, teve a valentia de sublinhar a importância desses periódicos para a Educação: “...Eu olharia o caderno ‘Cidades’ e tentaria identificar nas notícias o que tem a ver com a cidade do aluno e o que dali é possível demandar”. Se não fosse uma parvoíce descomunal e criminosa, até seria “risível”. A matéria informa que depois da grita do Sindicato dos Professores (SINPRO-DF) que frisou: “ Não houve nenhum planejamento pedagógico para a implantação desse tipo de programa nas escolas” e da entrevista que o Sr. Arruda deu à “Veja”, publicada em suas páginas amarelinhas, onde fala de sua “volta por cima”, em 15 de julho (quatro dias após a entrevista) a nota de EMPENHO foi cancelada. Razão: continha “...ERRO NO CAMPO FONTE DE RECURSOS”. Sobre os demais “empenhos” e contratos nada foi informado. E por que razão não se manifestaram os Srs. Ministros da Educação e do Orçamento? Vai ver estão de férias e adiaram seu retorno por causa da gripe do porco! E é por isso que venho estudando parar de pagar imposto de renda todo mês e todo ano...agora só farei EMPENHO!!

Vale recordar...

O engenheiro José Roberto Arruda, do DEM/DF (ex-PFL), mancomunado com o finado de triste memória, Antônio Carlos Magalhães, vulgo, “Tuninho Malvadeza”,em 2001, sendo ambos senadores, foram pegados violando o sigilo de votação do painel do Senado quando este votava a cassação do deputado Luís Estevão do PSDB. O Sr. Arruda era do PSDB na época. Foi apanhado em flagrante, negou tudo, mentiu despudoradamente e renunciou ao mandato para não ser cassado. Em 2006 foi o único membro do DEM a se eleger governador...essa é a “volta por cima” que a “sujíssima Veja” (royalties para Hélio Fernandes da Tribuna da Imprensa) destacou em sua pagininhas amarelinhas.

Prof. Dr. Haroldo Nobre Lemos, no 1º dia do mês de agosto do ano da Graça de 2009.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Imprestáveis vencedores


IMPRESTÁVEIS VENCEDORES


Nos tempos do Dr. Juscelino Kubtschek já se falava, e muito, da necessidade de uma ampla e profunda reforma política no Brasil. O Presidente, num de seus dias, contemplando as belas montanhas de Diamantina, vaticinou para seus assessores e amigos mais chegados que tal reforma jamais ocorreria, pois “o Congresso é uma casa de vencedores”. Já vão mais de 40 anos e o vaticínio do Dr. Juscelino só fez se confirmar, o que nos leva a uma pergunta que o cidadão-contribuinte-eleitor, no dizer de Hélio Fernandes, faz, ou, ao menos, deveria fazer: para que serve o Congresso Nacional? Numa democracia sustentada pelo Estado de Direito a pergunta deveria soar estarrecedora, mas, ao contrário, vem ganhando corpo e voz através de todos os meios de comunicação que noticiam 3,7 novos casos de corrupção por dia, isto é, mais de 1.000 por ano. No mês passado, no farfalhar do escandalozinho (pois este tem custo desprezível frente aos demais) das passagens aéreas para mães, esposas, filhos, concubinas e correlatos, distribuídas despudoradamente por mais de 300 parlamentares (nem a brava Heloíza Helena do PSOL escapou...mandou o filho para o exterior com suas cotas) levou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) a discursar sobre a irrelevância do Congresso, deixando irados vários de seus pares. Chegou mesmo a referir: “A reação é tão grande contra o Parlamento, que talvez fosse a hora de fazer um plebiscito para saber se o povo quer ou não que o congresso continue aberto”.

A questão já vem sendo tratada com seriedade, há algum tempo, por diversos órgãos não governamentais. É o caso da organização Transparência Brasil que, sob a batuta do respeitado e brilhante Cláudio Weber Abramo, vem trazendo a público a questão da proporção custo-benefício das casas legislativas brasileiras, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Com bases em dados oficiais reunidos pelo projeto Excelências (http://www.excelencias.org.br/) temos que 33% (27 entre 81) dos senadores respondem a processos por crime contra a administração pública. Incluem-se nesse grupo aqueles cujas contas de campanha foram reprovadas pela Justiça Eleitoral ou pelo Tribunal de Contas e ainda os acusados de compra de votos. Na Câmara dos deputados esse percentual atinge 37%, isto é, 192 deputados estão sendo processados por suspeita de desonestidade, vitimando a coisa pública. Nas assembléias estaduais e municipais os dados são de assombrar, chegando, em alguns, casos a mais de 60%. Mas enquanto não são condenados ou inocentados, isto é, enquanto não se dá o “trânsito em julgado”, todos respondem na ocupação dos cargos, mandatos, existindo ainda a figura demoníaca e brasileiríssima do foro privilegiado. Onde é mesmo que se diz que todos são iguais perante a lei?? Ah, lembrei, é na Constituição, mas esqueceram de adendar que uns são mais “iguais” do que outros.

Embora “nem todos os partidos políticos sejam comandados por patifes”, como lembra Cláudio Abramo, é sob suas legendas que eles são acolhidos, sem a menor preocupação com o passado/presente judicial do candidato, sobremodo se o(s) processo(s) ainda não se concluíram (trânsito em julgado). A crescente irrelevância do legislativo retroalimenta esse processo, num ciclo vicioso e viciado.

Senão vejamos quais são as matérias que constituem a maioria dos “projetos” dos parlamentares: criação de datas comemorativas (criação do dia do criador de cabras no RG), inclusão do símbolo do BOPE (um crânio apunhalado fazendo lembrar o símbolo do esquadrão da morte da década de 1970) dentre o patrimômio cultural do RJ (deputado Bolsonaro...o filho), concessão de medalhas, comendas e títulos honoríficos (até o ditador/golpista Hugo Chávez ganhou um no RJ)...e por aí vai! Em 2008, o partido DEM alardeou aos quatro ventos que negaria legenda a quem fosse condenado em segunda instância. Mas não negou. Devem ter esquecido.

Somam-se às matérias inúteis e irrelevantes a aprovação da maioria das medidas propostas (ou impostas?) pelo Poder Executivo. É o caso das medidas provisórias (MPs) que vinham travando a pauta do Congresso Nacional e que passaram a ser votadas em “esforço hercúleo” dos deputados, sem abrir mão da percepção das muitas horas extras, coordenado pelo Presidente da Assembléia, Dr. Michel Temer, que é autor de livros, professor de Direito Constitucional, e acusado pelo finado Antônio Carlos Magalhães de ter cara de mordomo de vampiro.

E nesta Casa e Orates o que sobrou para o Poder Judiciário? Nada mais do que a Divindade, tendo o Ministro Gilmar Mendes como o dono e senhor de todas as coisas, mas só aquelas que interessem à sua família no Mato Grosso e a algum banqueiro condenado pela Justiça da Grã- Bretanha e dos EUA. Sem “trânsito em julgado”. Aliás, no Brasil, a terminologia mais apropriada deveria ser “Tráfego em Julgado” já que está sempre “engarrafado”. E como um deus se comporta, chegando ao cúmulo do absurdo de dizer que o Supremo Tribunal deve legislar onde for preciso. Isto é, assumir de facto et iures, o papel do Legislativo diante de sua inoperância.

Em suma, o Legislativo não legisla nem fiscaliza o Executivo (suas principais atribuições). E o Judiciário zela pelas leis que não são votadas, criando jurisprudências no vácuo do Legislativo e, quase sempre, atendendo ao Executivo. Isso é que é Harmonia entre os Três Poderes!!

E ainda, como analisa Cláudio Abramo em excelente artigo de “Carta Capital”, de 13 de maio, às páginas 30/32, o elemento final dessa sórdida equação é capacidade avassaladora do Executivo de distribuir “cargos de confiança” aos aliados. De modo claro, o governo dispõe de algumas dezenas de milhares de cargos (os que já existiam e os que criou, salvo engano, somam cerca de 70.000) para oferecer. O loteamento da Administração Pública é a moeda de troca com os partidos políticos. Mas aí cabe uma perguntinha básica: para quê homens que se lançam em campanhas para se tornarem representantes da população querem cargos administrativos???
Nunca foi tão imperiosa uma mudança política que envolva fonte de recursos de campanha, sistema de votos (lista aberta ou fechada) etc. Mas, disto trataremos em outra oportunidade.
Paz e saúde a todos.


Prof. Haroldo Lemos.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sobre mídia, gripes e porcos

Não bastassem as bobagens proferidas com ênfase no alarmismo pelos telejornais, temos ainda as asneiras publicadas por periódicos altamente suspeitos, em todo e qualquer sentido, tais como Veja e Época, sobre a gripe dita suína. Parece que esses jornalistas ignorantes em Virologia não tem a humildade de consultar especialistas ou acessar a literatura para entender o problema. Há livros para leigos, tais como o excelente “A história da Humanidade Contada Pelos Vírus”, de Stefan Cunha Ujvari, publicado sob a égide da Editora Contexto, em 2008, que desmistificam inúmeras conjecturas sem fundamentação científica sobre AIDS, gripes etc, numa linguagem clara e bastante acessível aos não iniciados nas Ciências Biológicas. Abundam as “teorias” sobre o surgimento do vírus da influenza que vem causando justificada preocupação mundo afora. Só faltam surgir as teorias conspiratórias, mas parece que a Época já deu um passo nessa direção em matéria divulgada hoje (04/05/2009) pela manhã através da Band News FM.

Na obra retrorreferida, o autor cita 432 referências bibliográficas, remetendo a periódicos científicos respeitadíssimos e de caráter editorial rígido, criterioso e tradicional. Exemplos: Journal of Virology, American Journal of Human Genetics, European Journal of Human Genetics, Genetics and Evolution, Molecular Biology of Evolution, Nature, World Health Organization (WHO...OMS, em língua portuguesa) etc. O autor conseguiu elaborar um resumo muito bem fundamentado por pesquisadores de todo o planeta acerca da evolução humana e a forma pela qual a Arqueologia Microbiológica, em particular a Viral que faz uso de análises genômicas, vem acrescentando valiosos dados às pesquisas em evolução e, por conseguinte, preenchendo muitas lacunas desses estudos.

Cito um exemplo bem marcante da atuação desastrosa da mídia rapidinha e estupecafiente: a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Logo nos albores da década de 1980, os jornais do mundo estamparam o surgimento do “Câncer Gay”. Não faltaram jornalistas, sociólogos, celebrities, parlamentares e até médicos ignorantes para alimentar a mídia pré-paga e incompetente. E, de certo, para terem seus minutos de fama.

Até Dom Eugênio Salles, então arcebispo do Rio de Janeiro, que era articulista de “O Globo”, desfiou um rosário de idiotices sobre o tema naquele que se diz o jornal mais lido do Brasil. Não me consta que ele seja virologista. As hipóteses conspiratórias do tipo “... foram os americanos que deixaram escapar um vírus de seus laboratórios de guerra bacteriológica...” proliferaram de forma exuberante. Hoje, quando digo que o primeiro contato de humanos com o ancestral símio do HIV , o SIV (vírus da imunodeficiência dos símios), se deu no século XV e que o primeiro surto se deu na década de 1930, ninguém dá bola. Mas isto já foi comprovado pela ciência. Então perdeu a graça...já não é notícia que valha a pena divulgar.

Mas, falemos de gripes e de resfriados. As infecções virais do aparelho respiratório tem particular importância na morbidade (ou morbidez) e na mortalidade humanas em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), elas são a segunda principal causa de morte entre crianças abaixo dos cinco de idade, idosos e imunossuprimidos. A depender da idade e condições imunológicas do indivíduo toda infecção respiratória viral, seja ela causada por um vírus DNA ou RNA, podem apresentar níveis de gravidade diferentes que vão desde uma indisposição geral até o óbito.

Resfriados, Pneumonias, Bronquites, Bronquolites, Epidemias e Pandemias

Resfriados são infecções do trato respiratório superior, sendo também denominadas infecções influenza-like (flu-like). Em tais casos os pacientes são tratados de forma ambulatorial com medicação para os sintomas, enquanto as defesas imunológicas atuam contra o agente viral que, nestes casos, costuma ser o rinovírus. Estes vírus podem levar a uma pneumonia apenas em casos especiais nos quais existem outras patologias pulmonares. Outros grupos de vírus, os adenovírus e os coronavírus podem atuar da mesma forma.

Vale destacar que os quadros de pneumonia grave durante ou após essas viroses são de etiologia bacteriana. Daí o velho e acertado procedimento médico de administrar antibióticos em pacientes com quadros de resfriados ou gripe que perdurem por mais de 72 horas e nos quais já exista formação excessiva de muco nos pulmões. É comum as bactérias aproveitarem as lesões feitas pelos vírus para invadir o aparelho respiratório. A bronquiolite comum das crianças e a pneumonia viral, via de regra, estão associadas a dois outros tipos de vírus respiratórios muito comuns: o vírus respiratório sincicial e o vírus parainfluenza.

Pelo que é sabido, as infecções causadas por adenovírus, coronavírus e rinovírus podem provocar EPIDEMIAS. Enquanto as infecções causadas pelo vírus da influenza, da parainfluenza e pelo vírus respiratório sincicial podem provocar PANDEMIAS. Quando uma epidemia atinge mais de um continente, com comprovada transmissão humano a humano, a OMS soa o alarme de atenção para o que pode vir a se tornar uma pandemia. O estágio de hoje é o de PANDEMIA IMINENTE. É o nível cinco do alerta que instrui a todos os países para que ativem, de modo imediato, seus sistemas sanitários a fim de aumentar o monitoramento, a detecção precoce de casos suspeitos.

É mister frisar que caso suspeito não é caso confirmado. Os telejornais de anteontem ainda falavam em “pessoas internadas com sintomas da gripe suína”, o que é uma calamitosa e alarmante asneira. Não existe sintoma de gripe aviária, humana ou suína. O que existe é sintoma de gripe! Estes podem ser agudos ou não. A determinação do tipo de vírus só é possível por exames laboratoriais que, modo geral, os hospitais gerais não têm à disposição.

Vírus (essencialmente) respiratórios

São aqueles que encontram nas células do trato respiratório as melhores condições para sua replicação e por elas apresentam tropismo. São eles: o vírus da influenza, vírus respiratório sincicial, metapneumovírus, adenovírus, rinovírus, reovírus, bocavírus e os coronavírus humanos mais recentemente descobertos (SARS-CoV, HCoV-NL 63 e HCoV-KU 1).

Outros vírus utilizam as vias aéreas como porta de entrada no organismo e ponto de partida para sua replicação. Mas o trato respiratório não constitui o alvo principal desses agentes. É o caso do vírus da poliomielite, vírus da varicela-zoster (catapora-herpes zoster), vírus do sarampo, vírus da raiva (presente em aerossóis de secreções de morcegos em cavernas) etc.

Gripe

A gripe é uma infecção pelo vírus da influenza, dos gêneros A, B ou C, que devido a forma agressiva dos sintomas se manifestarem, faz com que um paciente adulto consiga lembrar, com exatidão, o dia e a hora em que os mesmos se iniciaram. Manifesta-se com calafrios, tosse seca, forte dor de cabeça (cefaleia), seguidos por febre superior a 38º C nas 24/72 horas após a infecção. A doença pode durar até sete dias, sendo que, no segundo dia, mesmo sem febre, o indivíduo já pode liberar partículas virais infectivas.

No transcurso da doença surgem ainda: anorexia, cansaço acompanhado de mialgias generalizadas (dores musculares), dor na garganta, coriza e congestão nasal. Os sintomas das vias aéreas superiores devem-se à liberação de produtos celulares (citocinas) e virais, decorrentes da resposta imunológica ao ataque viral nos tecidos. Seja através do sangue (viremia), seja por disseminação intercelular, o vírus chega ao trato respiratório inferior, acometendo laringe, traquéia, pulmões, brônquios e bronquíolos.

Nas infecções por H5N1, são observados altos índices de citocinas liberadas pelos leucócitos. Isto provoca graves alterações como a síndrome hemofagocitária (macrófagos repletos de hemácias), comprometimento dos rins (necrose tubular renal), depleção mielóide, fibrose pulmonar com danos nos alvéolos. A cepa viral que causou a gripe espanhola era altamente virulenta e letal, pois induzia níveis altíssimos de citocinas que levavam a graves hemorragias.

Origem

Este é o aspecto que menos interessa à imprensa, sobremodo à revistinha da globo, a Época.

O vírus da influenza, do gênero A, parece que esteve presente nas aves aquáticas e migratórias há milhares de anos. As fezes dessas aves continham ou o vírus da influenza, ou um seu ancestral e eram eliminadas em lagos e outros reservatórios de água compartilhado por homens e animais. Um acúmulo de mutações acabou por originar os vírus da influenza que conhecemos hoje. E, pelo que demonstra a evolução do vírus nas últimas décadas, pode-se deduzir que esse fenômeno é dinâmico e contínuo.

Na Pensilvânia, pesquisadores que estudam o genoma do vírus durante anos em tipos diferentes de animais, calcularam o tempo entre as mutações e concluíram que a primeira forma de vírus da influenza pode ter surgido há 10 mil anos. É neste ponto da linha do tempo que as criações de galinhas e porcos, na Ásia, começam a ter relevância. O vírus da influenza intercambiado entre esses animais sofreram mutações até chegar aos tipos capazes de infectar o homem. Este passou a infectar outros homens e, como no presente caso, também os porcos. Em suma, o vírus da influenza é tipicamente aviário e chegou ao homem a partir de epidemias entre animais domesticados. Justamente os que, há séculos, vem servindo de alimento para a grande e crescente população asiática.

As mutações ocorrem principalmente em duas proteínas que se projetam do corpo esférico do vírus como espículas. São: a hemaglutinina e a neuraminidase e estão associadas com a ligação do vírus à célula hospedeira. E é sobretudo contra elas que produzimos anticorpos. Os anticorpos produzidos contra proteínas de superfície de vírus da influenza em infecções anteriores podem não conferir, como é o caso, imunidade a um tipo novo, isto é, mutante. São conhecidos até o momento 16 tipos de hemaglutininas e nove tipos de neuraminidases. Daí a classificação em H (nº) N (nº). No caso atual (gripe suína) temos um H1 N1, ou, mais especificamente, um vírus da influenza do gênero A, com hemaglutinina do tipo 1 e neuraminidase do tipo 1.

A orientação da OMS em se empregar a classificação correta (A H1 N1) vem em salvação das criações de suínos. A mitologia acerca dos porcos já é bastante grande o que, em parte, explica a atitude açodada do governo do Egito ao mandar eliminar todo o rebanho daquele país. Nesse ponto é bom lembrar que nenhum vírus suporta altas temperaturas. Os vírus da influenza são destruídos a 56º C/ 30 min, quer dizer que carne, seja de que bicho for, depois de bem assada, cozida etc, não contém vírus.

Tratamento

Não existe medicamento preventivo. O fosfato de oseltamivir (TAMIFLU) e o zanamivir (RELENZA) são inibidores da biossíntese viral e agem diretamente sobre a neuraminidase. O Relenza (Glaxo) não existe no Brasil e é de administração por inalação oral, enquanto o Tamiflu (Roche) é apresentado em cápsulas. Ambos só apresentam resultado se administrados em período não superior a 48 horas contadas a partir do surgimento dos primeiros sintomas. Tem contra-indicações para lactentes, gestantes, pessoas com patologias pulmonares prévias etc. Em 2007, o FDA (Food and Drugs Administration) nos EUA, determinou que se colocasse na bula do Tamiflu o risco de ocorrência de episódios de delírios e outras perturbações mentais. Quanto ao Relenza é destacada a possiblidade de ulcerações na mucosa nasal e sangramento.

Vacina

O mais provável é que até o final de 2009 já exista vacina disponível.



sábado, 28 de fevereiro de 2009

Santo de casa faz milagre?

Quando Monsenhor Ratzinger virou Bento XVI, muitos italianos e alguns turistas foram aos berros para as ruas pedir a canonização de João Paulo II. Quase não deram bola para o fato de a Igreja Católica ter ganhado um novo chefe. Aqui mesmo nas Terras de Santa Maria, não foi sem esforço que muitos párocos foram homeopaticamente empurrando o bávaro, com suas olheiras soturnas e cara de antipático, pela goela dos fiéis que insistiam em não tirar da lembrança o finado João Paulo. E a esmagadora maioria dos que são, ou se dizem católicos, ignora os problemas graves que ele deixou para seu sucessor. E muitos deles criados por ele mesmo.

E nem vamos esfregar sal em velhas feridas, como o fato de O santo Pronto, “o santo já”, como bradava o povão, ter mandado o cardeal francês suspender de imediato a auditoria nas contas do Banco do Vaticano, a investigação acerca da evaporação de 250 milhões de dólares que envolvia o Banco Ambrosiano, a Loja Maçônica PII e a Velha Camorra (a máfia tradicional do sul da Itália).

Tal como fora determinado por João Paulo Primeiro (aquele que tomou um chazinho pra dormir...e dormiu pra sempre)! E também vamos esquecer que ele canonizou em tempo recorde, tornou santo, José Maria Escrivá de Balaguer y Albas que, entre outras “qualidades”, era o fundador do Opus Dei (1928), um antro de fascismo, e amigo íntimo e sócio de Francisco Franco.

Ele mesmo, o Generalíssimo Franco, ditador da Espanha que na sangrenta Revolução Espanhola, pediu, em maio de 1937, ao seu amigo Adolf Hitler que mandasse sua poderosa Luftwaffe despejar toneladas de bombas sobre a cidadela basca de Guernica, matando centenas de pessoas, a maioria camponeses com suas famílias.

Isso serviu de treino para os alemães que invadiriam a Polônia dois anos depois, dando início à Segunda Grande Guerra. E o tal do Zé Maria Escrivá pôs gente dele, isto é, os chamados “numerários” do Opus Dei, tais como o Geraldo Alckmin em nossos dias, em dezenas cargos de poder. Eram tantos que o Ministério da Educação passou a ser chamado de Monastério da Educação.

E nem vamos pensar nas relações entre a Igreja Católica de Roma e a do Oriente (Ortodoxa), na evasão dos fiéis na França, nos padrecos pedófilos dos EUA e seus bispos acobertadores, nos denominados “abusos litúrgicos” dos pentecostalistas da renovação carismática e na baboseira intitulada diálogo interreligioso, que até hoje ninguém sabe o que é. Será que é a falação que rola nas reuniões do condomínio onde moro? Afinal, sai abobrinha pra todo lado...e tem judeu, católico, muçulmana com véu e tudo etc. A macumbeira se mudou no ano passado. Mas não por razões religiosas.

Digressões a parte, o Papa resolveu depois de muito lero-lero desexcomungar os seguidores do Mosr. Marcel Lefebvre que se recusou a acatar as normas emanadas do Concílio Vaticano II (1962-1965), a aceitar o Novus Ordo Missae, de Paulo VI, isto é, o ritual litúrgico que se pratica hoje. Lefebvre queria que se mantivesse o rito estabelecido no concílio de Trento (1545-1563), daí chamar-se Rito Tridentino. Aquela missa falada em latim na qual o padre fica de costas para a assembléia.

Ele fundou a Sociedade São Pio X, formou uma porção de padres e “entornou de vez o caldo” quando sagrou, juntamente com o Arcebispo Emérito (aposentado) de Campos dos Goytacazes (RJ), Dom Antônio de Castro Mayer, quatro bispos. Aí a coisa ficou feia , pois essa é, segundo o Direito Canônico e pelo fato dos bispos serem considerados os sucessores dos apóstolos, uma prerrogativa do Sumo Pontífice. Esses quatro eram : o suíço Bernard Fellay, o francês Bernard Tissier de Mallerais, o espanhol Alfonso de Galarreta e o inglês Richard Williamson (foto).

O resultado era esperado e essa galera foi toda excomungada em julho de 1988 por João Paulo II, o “santo pronto”. Muita água rolou por debaixo dessas pontes góticas e obscuras até que, recentemente, Bento XVI suspendeu a excomunhão dos lefebvristas desobedientes em 24 de janeiro passado. Quer dizer, dos que estão vivos, óbvio. Mas não os reintegrou totalmente como a mídia tem feito parecer.

Isso ainda vai levar tempo, sobretudo depois que o tal Williamson, em assumidíssima posição antissemita, declarou aos quatro ventos que o holocausto perpetrado pelos nazistas em seus campos de extermínio, simplesmente não ocorreu! Afirmou que iria rever as fontes históricas! Nem pretendo perder tempo com suas microcefálicas declarações ao periódico Der Spiegel que acabaram fazendo a Primeira Ministra da Alemanha, Angela Merkel, perder a linha.

Williamson conseguiu seus 15 minutos de fama globalizada, enfureceu o povo judeu, irritou o governo alemão, estarreceu dezenas de historiadores e pesquisadores em todo mundo, judeus e não-judeus, e, é claro, com grande alegria, atormentou o Papa Bento, quer dizer, o mesmo Cardeal Ratzinguer que comandou seu processo de excomunhão, quando era o lugar-tenente de João Paulo II.

A partir de tamanha parvoíce, a mídia impressa, televisiva, radiofonizada e internáutica transformou as palavras do Cardeal-Débil-Mental em matéria para umas duas semanas. É que ele esqueceu, ao fazer um charmezinho do tipo “não irei a Aschwitz” (Der Spiegel em 10/02/09), as palavras de Bento XVI, em 2006, quando visitou este que foi um dos piores campos de genocídio de Hitler. Disse ele: “...Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou Deus silencioso? Como pôde Deus permitir este infindável massacre, este triunfo do mal?...”.

Nesta época, à guisa de informação, lembro que quem melhor explicou esta atitude meramente humana de Sua Santidade, foi aquele que ele baniu junto com sua teologia (Teologia da Libertação) quando era o Cardeal Ratzinger, seu ex-aluno na Bavária e ex-frei Leonardo Boff em programa da Globo News comandado por William Waack. Agora, depois de seriamente admoestado pelos seus confrades da Sociedade S. Pio X, Williamson disse que vai pedir perdão. Mas vai pedir a quem “cara-pálida”? Que se manifestem os historiadores, afinal, dos prováveis seis milhões de vítimas do holocausto alguns milhares não eram judeus, ou não eram apenas judeus.

Há que serem somados: os comunistas, os “fracos” como os homossexuais (estes são estimados em 50.000), os estéreis, os marginalizados (até hoje) como os ciganos, eslavos, deficientes físicos e mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polonesa, russa e de outros países do Leste Europeu, Testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos, sindicalistas e qualquer um que discordasse do sistema.

O pedido de perdão veio nesta 5ª feira (27/02), segundo fontes do insuspeito e taciturno Vaticano, dirigido “àquelas pessoas que ficaram ofendidas” com as declarações. Acho que o teor desse pedido lacônico de desculpas foi inspirado por São Zé Maria Escrivá. A propósito, o caro leitor conhece alguma novena, trezena ou qualquer outra forma devocional dedicada ao santo padroeiro do fascismo???

Prof. Haroldo Lemos.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O velório do Embrião


O VELÓRIO DO EMBRIÃO

Já estão historicamente monótonas as brigas da Igreja Católica de Roma com os avanços científicos. Foi assim com Galileu que, por sua vez, foi perseguido e condenado à prisão domiciliar, em 1633, pelo Santo Ofício, mais pela arrogância do que pelas idéias. Idéias que, aliás, começaram com Copérnico em 1543. Foi ele que propôs que a Terra era apenas um planeta girando em torno do sol, quando a Igreja sequer tinha alguma posição nesse sentido. Foi aí que Martinho Lutero e sua Reforma Protestante entraram em cena, principalmente com o uso da 'sola scriptura', alegando que a Escritura fala por si e não necessita de interpretações teológicas. Sobre Galileu, assim disse Lutero: “...parece que um novo astrólogo quer provar que a Terra se move através dos céus (...) o tolo quer virar toda a arte da astronomia pelo avesso...”. Muita água rolou por baixo dessa ponte. Galileu, muito abusado, foi calado diversas vezes pois queria derrubar as idéias de Aristóteles que então prevaleciam e escreveu que a Igreja tinha que rever suas interpretações bíblicas. Ele se escudava em seu amigão, Cardeal Barberini que, em 1623, tinha virado Papa. Em 1632 teve que abjurar todas suas idéias, isto é renunciar a todas de forma pública e solene perante o Santo Ofício. Senão virava churrasco.
Em 1982, João Paulo II mandou rever o processo de Galileu e, em 1992, suspendeu a condenação.
Toda essa digressão para mostrar que não fosse o avanço de Lutero, forçando a Igreja a tomar uma atitude, somada a arrogância de Galileu, que adorava chamar todos que discordassem dele de burros, não teriam se passado 359 anos entre a condenação e o perdão. Quer dizer, a Igreja não adotou uma postura tão retrógrada, a princípio, nesse episódio.
Contudo, os avanços de após a Segunda Grande Guerra, isto é, as décadas de 1950 e 1960 começaram a se tornar um problema para os conservadores religiosos católicos e protestantes.O desenvolvimento dos métodos anticoncepcionais somado ao novo papel que a mulher passara a desempenhar no mundo já davam muita dor de cabeça. Mas o Concílio Vaticano II (1962-1965) também amenizou a difícil relação entre ciência e religião.
A partir da década de 1990 a ciência através de um consórcio multinacional finalmente concluiu o chamado Projeto Genoma Humano. Teve até briga entre empresas de pesquisa que queriam patentear a descoberta. Quer dizer, se alguma tivesse conseguido ter-se-ia tornado “proprietária da espécie humana”. Mas isso não durou muito e, nesses nossos dias, as crianças que estudam em boas escolas sabem extrair DNA de quase tudo o que houver na geladeira. É uma aula prática bem comum em escolas estadunidenses de nível secundário.
O avanço célere da informática vem favorecendo tudo e, decerto, tem feito a ciência dar verdadeiros saltos. Tão altos que as teologias morais, os códigos de processos penais etc., mundo afora, têm grande dificuldade em acompanhá-los.
É precisamente o que se dá com o uso das células-tronco embrionárias.
Em 2005, o Congresso dos EUA estava discutindo se o governo federal deveria, ou não, financiar essas pesquisas. Até mesmo muitos deputados republicanos, protestantes e conservadores, manifestaram-se favoravelmente. Foi o caso do deputado republicano Cristopher Shays que declarou: “Galileu e Copérnico estavam corretos: a Terra é mesmo redonda e gira em torno do sol. Eu acredito que o intelecto que nos foi dado por Deus deve ser utilizado para diferenciar o dogmatismo que nos aprisiona e a prática ética da Ciência, que é o que devemos apoiar aqui hoje”. Resultado o Congresso aprovou, o Senado idem, mas George W. Bush usou seu poder de veto. Não bastasse isso, soterrou as políticas de preservação ambiental de Bill Clinton e reduziu drasticamente as verbas federais para a National Science Foundation e também as da NASA. Decisões políticas em qualquer sistema democrático jamais podem ser impregnadas por dogmatismos, sobretudo oportunistas, sejam eles oriundos desta ou daquela denominação religiosa. No Brasil, já possuíamos uma lei bem específica e eticamente rigorosa quanto ao uso de células-tronco embrionárias, desde 2005. A Igreja tentou derrubá-la, “o povo escolhido de Deus”, os judeus, através de seus rabinos manifestaram-se favoráveis ao uso desses embriões que, nos termos usados pelo rabino Henri Sobel “constituem apenas expectativas de vida”.
Cabe aqui esclarecer que as células-tronco embrionárias são obtidas de embriões que já contam
 com cerca de 200 células. Estas células ainda indiferenciadas têm o potencial de se transformar em células musculares, do músculo cardíaco, em neurônios etc. O potencial de terapias que venham a empregar essas células é imenso. Sobremodo no que tange às doenças degenerativas, tais como Mal de Alzheimer, diabetes, Mal de Parkinson, lesões neurológicas, simplesmente repondo células saudáveis no lugar daquelas danificadas ou mortas.
A grande questão levantada, em particular pela Igreja, é que esses embriões são seres humanos (já possuem alma) e utilizá-los em pesquisa seria como assassinar pessoas. A legislação de biossegurança determina, de forma expressa e inequívoca, que apenas os embriões descartados podem ser empregados nessas pesquisas. E, graças a Deus, o Supremo Tribunal Federal fulminou, em caráter definitivo, essa retórica hipócrita. Isso mesmo, retórica absolutamente hipócrita, pois é de se perguntar por que a Igreja de Roma não fez o mesmo barulho, até hoje, contra as clínicas de fertilização? Os embriões da Dona Fátima Bernardes e do Sr. William Bonner, por exemplo, que não foram empregados para gerar seus gêmeos, estão congelados ou já foram para o lixo? Sim, porque são muitos os embriões produzidos e poucos os escolhidos para gerarem fetos. A frase não soa um tanto bíblica? “Muitos serão chamados, mas poucos serão os escolhidos” (Mateus 22:14).
Bem, uma vez que os abastados não querem adotar crianças que não sejam brancas, saudáveis e com menos de nove meses de idade, conforme declararam os senhores Marcelo Antony (ator) e Maurício de Souza (criador da Turma da Mônica) no programa “Altas Horas” de hoje, partem para as clínicas caríssimas e sofisticadíssimas de fertilização. Assim como também fizeram o provecto Carlos Alberto de Nóbrega e sua mulher há alguns anos. O que eles farão com seus embriões não escolhidos e mantidos congelados em nitrogênio líquido a menos 196 graus centígrados? Se forem mesmo “pessoas humanas” devem estar com um baita frio.
Mas o que fazer com eles? Já até surgiram umas senhoras muito piedosas, na Itália, que ofereceram seus úteros para implantação desses pobres enjeitados sobre os quais ninguém fala. Claro que isto não deu em nada, mas vendeu jornal pra xuxú. Tiveram seus 15 minutos de fama (royalties para Andy Warhol).
Mas como disse Drummond, “ E agora, José”? Ou seria o caso de dizer, e agora Bento XVI? Bem, pela lógica eclesiástica tratam-se de “pessoas humanas” (eles adoram essa locução) inviáveis. Sendo assim, minha proposta é que se dê sepultura a todos esses “enjeitados”, com todas as exéquias a que têm direito, de acordo com o que preconiza o ritual romano para os fiéis defuntos.
A propósito, por que será que o clero fala tanto em “pessoa humana”? O dicionário filológico da Fundação Antônio Houaiss, define pessoa assim: “indivíduo considerado por si mesmo; ser humano homem ou mulher”. Será que existe alguma pessoa não humana???


Prof. Dr. Haroldo Nobre Lemos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A "moral temporária"


Em julho de 2008, assisti a uma parte do programa Roda-Viva competentemente conduzido pela jornalista Lilian Witte Fibe no qual entrevistavam um ex-professor da PUC, cujo nome esqueci, atualmente lecionando em outro lugar lá de São Paulo.


O tema era a grande rede, "the world wide web" (www), quer dizer, a internet, suas vantagens, desvantagens, perigos e promessas. O professor entrevistado, apesar de gago era bem auto-controlado e muito culto. Falou muito bem sobre a grande rede, suas possibilidades etc. Mas, como de hábito, o programa esquentou mesmo foi no final quando se tocou nas possibilidades e necessidades de haver um certo controle na qualidade das informações e na forma como são facilmente tornadas acessíveis (detesto esse neologismo..."disponibilizadas"). Por óbvio, o foco passou a ser a imprensa e as "consequências (já sem o trema) de seus atos". E para não ficar com cara de defensor da volta da censura, o entrevistador passou a falar em moralidade. Assunto espinhoso e que incomoda muita gente. Acabou falando mais do que o entrevistado e descambou para uma tal "Moralidade Temporária". Para ser mais claro, afirmou que a moralidade do jornalista era temporária, uma vez que o mesmo vive sempre da manchete de amanhã, enquanto nós , pobres mortais, permanecemos
o dia inteiro digerindo fatos que foram escritos, de modo geral na madrugada anterior.

Terminado o programa e eu insone, na falta de coisa melhor pra fazer fui pesquisar o tema e percebi que aquilo que o entrevistador barbudo (sou péssimo com nomes) chamava de moralidade temporária era o pano de fundo do chamado "relativismo", ao qual o falecido Papa João Paulo II desferia diversas críticas sempre que podia e sempre lembrando que esta era uma característica dos meios de comunicação que gerava um encurtamento da memória coletiva e, por conseguinte, uma redução gradual da capacidade de refletir de muitos.

Para daí chegar a Jean-Paul Sartre foi um pulo. Pois foi ele que lá pelos idos de 1937 quando lecionava lógica, psicologia e, é claro, moral no departamento de Filosofia do Lycée Pasteur, em Paris, foi interpelado por um de seus auxiliares que acabara de ouvi-lo contar, ao telefone, uma colossal mentira a uma de suas namoradas. Afinal, ele era bem feinho, mas muito bom de papo. O colega queria saber como isto era possível sendo ele professor de moral. De pronto, o grande filósofo do existencialismo respondeu ao indignado colega: "...é difícil, tão difícil que, às vezes há que se ter uma moral temporária."


Sem dúvida, Fernando Henrique Cardoso, homem de muito saber, conhecia esse tipo de "moral", uma vez que, quando era senador, condenou por diversas vezes o uso e abuso das Medidas Provisórias pelo poder executivo. Mais tarde, já presidente da república, afirmou com todos os "efes" e "erres" que sem elas (as MPs) não havia governabilidade, terminando por coroar com toda "temporalidade" possível sua moral ao declarar peremptoriamente, in litteris : "Esqueçam tudo o que escrevi".


Moral Temporária ou o maior exercício de auto-crítica feito por governante??


Eu cá, fico com o velho Sartre!