sexta-feira, 12 de agosto de 2011

NÃO ME ENCAIXO EM IGREJA MODERNINHA!

   Muitas pessoas queridas perguntam-me com certa e irritante frequência, se abandonei a Igreja. Digo-lhes que não! Minha fé católica continuará inabalável até meu último segundo de vida. Contudo, os abusos e desrespeitos litúrgicos agravados pelo movimento neopentecostal dos anos 1970 que se somaram a outros de natureza protestante, nos EUA e por toda América Latina, impregnaram as paróquias e deturparam um dos mais ricos e belos tesouros da humanidade, a Liturgia Católica.

   Hoje, me é impossível assistir às missas ditas “populares” mal celebradas por padres com mais vocação para cantores de churrascaria de estrada do que para sacerdotes. Não gosto de “modernices” e “populismos” e, graças a Deus, não preciso deles!

   Restou-me, mercê de Deus, a missa das 18 horas da Igreja Abacial do Mosteiro de São Bento, logo após a Liturgia das Horas, em sempre inspirador canto gregoriano entoado pelos monges.

   A foto e o texto aqui anexados explicam de modo cristalino o que sinto.

PS: a foto é de um grupo de jovens fazendo “exercícios” para receberem o Sacramento da Crisma, isto é, a confirmação, por livre escolha, de seu batismo e de sua adesão à Igreja. Que coisa!


Iniciativas litúrgicas arbitrárias

Por Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho

   A grande preocupação dos Papas desde Paulo VI tem sido preservar a harmonia própria ao culto católico sobre o plano litúrgico e religioso. Embora as veleidades fantasiosas que pulularam logo após o Vaticano II tenham diminuído prevalece ainda a tendência em dessacralizar a Liturgia. Isto significa, porém, a demolição do culto autêntico, levando consigo de roldão equívocos doutrinais, disciplinares e pastorais.

   Trata-se de uma desintegração aberrante de fundas conseqüências. No fundo prevalece um espírito anticanônico e uma aversão às rubricas tais como se acham no Missal Romano. A beleza, a verdade, a espiritualidade que devem fluir das cerimônias, dos cânticos, das atitudes dos participantes ficam gravemente afetadas. Ofusca-se, deste modo, o mistério pascal e a glória de Deus resta comprometida, incrementando-se não a piedade, mas ensejando todo tipo de distrações. Muitas vezes impera um horizontalismo que leva o povo a celebrar a si mesmo no lugar de comemorar os Mistérios de Cristo.

   A Liturgia não é nunca propriedade do fiel, nem do celebrante, nem da comunidade. Não se trata de uma peça literária que se inventa. Ela compreende, com efeito, elementos permanentes que emanam do Redentor, como são os componentes essenciais dos Sacramentos, sendo que há, outrossim, elementos variáveis que são cuidadosamente transmitidos e conservados pela Igreja. Cumpre uma educação religiosa profunda para que toda a riqueza da linguagem litúrgica seja vivida em sua plenitude.

   É ponto basilar fixar que a assembléia se reúne para um encontro com Cristo ao qual deve responder com a adesão à Palavra, a ação de graças, a recordação da salvação, o louvor, a súplica, tudo isto levando a um sério compromisso existencial. O que obscurece tal finalidade deve ser evitado.

   Eis por que toda teatralidade agride a participação plena e ativa do povo, impedindo que se colham frutos espirituais. Donde um preparo esmerado a cada semana é de vital importância. Esta inclui a preparação das leituras, uma vez que erros gramaticais graves são aquilo que os experts em comunicação chamam de ruído. Por vezes provocam até comentários em plena celebração por parte de participantes que captam a agressão à língua pátria, impedindo a inserção no mistério. Um denodado leigo missionário de notável formação teológica se queixava com este articulista sobre certas Missas em praça pública durante as quais pessoas saem para comprar picolé, pipoca e outras guloseimas (sic) e retornam com as mesmas acintosamente as deglutindo.

   Nunca é demais alertar para certos cantos que, sem a aprovação eclesiástica, são introduzidos ou com ritmos carnavalescos ou com letras até heréticas. Certo cântico, que ainda anda sendo entoado, indaga: “Quem está neste pão? Quem está neste vinho?”. Ora, isto é empanação condenada desde o Concílio deTrento. O certo é “Quem é este pão?” “Quem é este vinho”.


   O Glória da Missa dominical tem se prestado a muitas deturpações e houve quem inventasse esta fórmula ridícula: “ Glória a Deus Pai, glória a Deus Filho, glória ao Espírito Santo. Glória a Deus Mãe (sic)” e no meio do texto aparece saudação também à Virgem Maria, ocasionando grande confusão e até parecendo que se diviniza a figura da Mãe de Jesus. Estes e outros desvios precisam ser sempre combatidos.

   Adite-se a queixa de muitos fiéis sobre cerimônias muito longas, Missas que duram cerca de duas horas, por vezes, infladas de apresentações paralitúrgicas.

   Os comentários, outrossim, por parte de certos comentaristas mais parece uma homilia no início ou antes de cada leitura. A invés de ser uma introdução objetiva, clara, que prenda a atenção dos participantes ocorre uma lengalenga vazia.





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CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO.Iniciativas litúrgicas arbitrárias. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4138. Desde 23/4/2007.”



Aos doze dias do mês de agosto de 2011, na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Prof. Dr. Haroldo Nobre Lemos