quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A "moral temporária"


Em julho de 2008, assisti a uma parte do programa Roda-Viva competentemente conduzido pela jornalista Lilian Witte Fibe no qual entrevistavam um ex-professor da PUC, cujo nome esqueci, atualmente lecionando em outro lugar lá de São Paulo.


O tema era a grande rede, "the world wide web" (www), quer dizer, a internet, suas vantagens, desvantagens, perigos e promessas. O professor entrevistado, apesar de gago era bem auto-controlado e muito culto. Falou muito bem sobre a grande rede, suas possibilidades etc. Mas, como de hábito, o programa esquentou mesmo foi no final quando se tocou nas possibilidades e necessidades de haver um certo controle na qualidade das informações e na forma como são facilmente tornadas acessíveis (detesto esse neologismo..."disponibilizadas"). Por óbvio, o foco passou a ser a imprensa e as "consequências (já sem o trema) de seus atos". E para não ficar com cara de defensor da volta da censura, o entrevistador passou a falar em moralidade. Assunto espinhoso e que incomoda muita gente. Acabou falando mais do que o entrevistado e descambou para uma tal "Moralidade Temporária". Para ser mais claro, afirmou que a moralidade do jornalista era temporária, uma vez que o mesmo vive sempre da manchete de amanhã, enquanto nós , pobres mortais, permanecemos
o dia inteiro digerindo fatos que foram escritos, de modo geral na madrugada anterior.

Terminado o programa e eu insone, na falta de coisa melhor pra fazer fui pesquisar o tema e percebi que aquilo que o entrevistador barbudo (sou péssimo com nomes) chamava de moralidade temporária era o pano de fundo do chamado "relativismo", ao qual o falecido Papa João Paulo II desferia diversas críticas sempre que podia e sempre lembrando que esta era uma característica dos meios de comunicação que gerava um encurtamento da memória coletiva e, por conseguinte, uma redução gradual da capacidade de refletir de muitos.

Para daí chegar a Jean-Paul Sartre foi um pulo. Pois foi ele que lá pelos idos de 1937 quando lecionava lógica, psicologia e, é claro, moral no departamento de Filosofia do Lycée Pasteur, em Paris, foi interpelado por um de seus auxiliares que acabara de ouvi-lo contar, ao telefone, uma colossal mentira a uma de suas namoradas. Afinal, ele era bem feinho, mas muito bom de papo. O colega queria saber como isto era possível sendo ele professor de moral. De pronto, o grande filósofo do existencialismo respondeu ao indignado colega: "...é difícil, tão difícil que, às vezes há que se ter uma moral temporária."


Sem dúvida, Fernando Henrique Cardoso, homem de muito saber, conhecia esse tipo de "moral", uma vez que, quando era senador, condenou por diversas vezes o uso e abuso das Medidas Provisórias pelo poder executivo. Mais tarde, já presidente da república, afirmou com todos os "efes" e "erres" que sem elas (as MPs) não havia governabilidade, terminando por coroar com toda "temporalidade" possível sua moral ao declarar peremptoriamente, in litteris : "Esqueçam tudo o que escrevi".


Moral Temporária ou o maior exercício de auto-crítica feito por governante??


Eu cá, fico com o velho Sartre!

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