domingo, 29 de novembro de 2009

MAZELAS DE VERÃO (1)


Com a chegada do verão chegam também suas mazelas tropicais, sendo a que mais se destaca, em termos de saúde pública, a dengue. O texto abaixo é uma resposta a uma mensagem eletrônica que me foi enviada pela Profª. Dra. Denise Mano Pessoa (Colégio Pedro II e PUC/RJ), arguindo sobre a existência de uma possível vacina para dengue elaborada pela “famosa” medicina cubana. O texto é de maio de 2008, mas como as autoridades nada providenciaram em se tratando de prevenção e controle desta virose, permanece atual. É o que segue.


“Cara Denise

Antes de tudo sou-lhe muito grato pela belíssima mensagem por ocasião da celebração da Páscoa.

Mas também escrevo por conta de sua mensagem eletrônica datada de 25 de março com o impactante título: VACINA PARA A DENGUE, que prosseguiu, de modo confuso, invocando informações procedentes de uma senhora farmacêutica – homeopata - caribenha que afirma conhecer um tratamento para dengue hemorrágica. Ufa!
Essa miscelânea (vacina x tatamento da doença estabelecida) fez-me recordar da década de 1970, quando um sujeito apareceu na televisão, na “Discoteca do Chacrinha”, dizendo produzir uma infusão de ipê-roxo que era capaz de curar o câncer. Foi um verdadeiro alvoroço.

E você menciona essa tão famosa e obscura medicina cubana que cura até vitiligo no interior de São Paulo. Segundo S.Ex, o deputado Clodovil Hernandez, que é amigo da médica cubana.

Será que são esses os conhecimentos médicos nebulosos que mantêm vivo El Comandante Fidel Castro, o único “mito vivo”, segundo o Presidente Lula? E disso eu discordo frontalmente, pois a medicina brasileira também mantém “mitos vivos”. Olha aí o Cauby Peixoto, a Neyde Aparecida, o Zé do Caixão...ah, e claro, a “imorrível” Dercy Gonçalves. Esta última, na época da descoberta do “elixir-do-ipê-roxo”, mandou fazer galões dele. Deve ter bebido tudo...e o resto é história.
E por falar em História, o saudoso Prof. Dr. Paulo de Góis foi cogitado para ser preso pela ditadura diversas vezes. Numa dessas foi porque ele fez publicar, com todas as letras que “o Rio de Janeiro é uma bomba de febre amarela pronta pra explodir”. Ele já fazia referência ao espalhamento do mosquito Aedes aegypti. E isto em 1977.

NÃO EXISTE VACINA PARA DENGUE.....por enquanto! E isto posto, vamos ao que serve.

FLAVIVÍRUS

Esse gênero é composto por 73 vírus, dos quais 34 são transmitidos por mosquitos,17 por carrapatos e 22 constituem agentes zoonóticos sem vetores conhecidos, geralmente transmitidos entre roedores e morcegos.

Quarenta espécies de flavivírus têm sido associadas a doenças humanas; 42 de 34 (65%) são transmitidos por mosquitos; 13 das 17 espécies transmitidas por carrapatos podem causar doenças em humanos. E somente cinco das 22 sem vetores conhecidos (23%) causam doença humana.

A importância da transmissão por vetores artrópodos (mosquitos e carrapatos) é que deu origem à denominação ARBOVÍRUS (arthropod-born-virus) para alguns flavivírus.


OS FLAVIVÍRUS MAIS IMPORTANTES

Dengue, febre amarela, encefalite do carrapato e a meningite japonesa são as arboviroses mais importantes dadas suas elevadas morbidade e mortalidade em todos os continentes.
O vírus da febre amarela foi o primeiro a ter sua transmissão por mosquitos infectados comprovada. Isto em 1927. E pôde ser cultivado in vitro em 1932. O mesmo só ocorreu com a dengue em 1943.


VACINA

Em termos de preparação de vacina é praxe considerarmos, de plano, a morfogênese, a morfologia, a composição proteica e a estrutura do genoma viral.

Os virions (partículas virais completas) dos flavivírus consistem de um core ribonucleoproteico (RNA+ ptn) esferoidal, envolvido por um envelope lipoproteico com pequenas projeções na superfície.
Como todos os vírus envelopados (envolvidos por gordura) são altamente sensíveis aos solventes orgânicos, isto é, qualquer substância capaz de dissolver gordura. Até álcool comum.
As grandes discussões, agora, pelo que se lê das últimas publicações, residem em quais porções devem ser empregadas na confecção das vacinas; se os vírus devem ser combinados (“quimerizados”) ou não; se as vacinas devem conter vírus ativos atenuados ou se devem ser inativados.

O Depto. de Patologia do Centro para Doenças Tropicais (Univ. do Texas) referiu, em dezembro de 2001, que “embora haja aproximadamente 68 flavivírus reconhecidos, as vacinas desenvolvidas controlam pouquíssimas flaviviroses humanas. Vacinas vivas atenuadas têm sido licenciadas para febre amarela (cepa 17D) e encefalite japonesa (cepa SA14-14-2), e vacinas inativadas têm sido desenvolvidas para encefalite japonesa e com o vírus da encefalite do carrapato...O maior número de vacinas ora em experimentação e desenvolvimento são para o combate à dengue , com destaque para uma vacina tetra-valente que já se encontra sob testes clínicos.” Há, como já dito ao cimo, o projeto da vacina “quimérica” (Chimerivax) que utiliza porções antigênicas dos vírus da encefalite japonesa e dos vírus da dengue.

São muitos os detalhes acerca deste tema, de tal sorte que após um seminário de especialistas havido em Oxford, a revista Lancet, de fevereiro de 2008, assim publicou a conclusão do mesmo: “doença hemorrágica, encefalite, febre bifásica, paralisia flácida e icterícia são manifestações típicas de doenças em seres humanos após serem infectados por flavivírus transmitidos por mosquitos ou carrapatos, tais como a febre amarela, DENGUE, a febre do Nilo,a encefalite de St. Louis, a encefalite japonesa, a encefalite do carrapato, a doença da Floresta de Kyasamur e a febre hemorrágica de Omsk. Embora as características dessas viroses estejam bem definidas, ELAS CONTINUAM IMPREVISÍVEIS E VÊM INCREMENTANDO SEU GRAU DE SEVERIDADE, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS INCOMUNS, MÉTODOS DE TRANSMISSÃO INESPERADOS, TEMPO MAIOR DE PERSISTÊNCIA e a descoberta de novas espécies.”

Nesse seminário os especialistas compararam as atuações clínicas e epidemiológicas com relação as flaviviroses mais importantes, considerando, particularmente, O EFEITO DA ATIVIDADE HUMANA SOBRE A EVOLUÇÃO E DISPERSÃO DESSES AGENTES VIRAIS, atentando para os novos achados, algumas questões ainda sem respostas e as controvérsias que permanecem.

E eu escrevi tudo isso por causa da minha amada Chefinha, salve-salve, e dessa tal Farmacêutica-Homeopata-“Santera”(mãe-de-santo)-cubana e suas ervas. Serão as ervas da Jurema?

Beijos , abraços e saudades,

Haroldo, em 15/05/2008."


O pior de tudo é que o verão está aí, os ovos dos mosquitos depositados há menos de três anos também, e as chuvas chegaram. E para quem só se desesperou com a “gripe do porco”, é a hora de admoestar os senhores administradores, digo, gestores públicos, sobremodo o alcaide, Sr. Eduardo Paes, que está ameaçando parar a coleta de lixo, sem aviso prévio, por 48 horas, para mostrar o quanto o carioca é desleixado com a cidade.

E tudo em nome de 2014 e 2016...isso se a profecia de 2012 permitir. Que coisa!


Prof. Dr. Haroldo Nobre Lemos.

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