Por razões de cunho muito mais sociológico do que científico a maioria dos alunos de diversos municípios foram obrigados a esticar seu recesso escolar até o dia 17 deste mês, com a possibilidade de as autoridades reverem tal decisão e, conforme o andar da carruagem, determinar um prolongamento do mesmo até setembro.
Na verdade tal decisão não muda absolutamente nada no que concerne à epidemiologia da gripe A (H1N1) que a TV Globo, seguida das outras de menor audiência, insiste em chamar de “gripe suína”. Mas atende ao desespero provocado principalmente pela contra-informação prestada pela mídia, modo geral. Há que se fazer justiça com a Rede Bandeirantes que no programa “Roda Viva”, de 26 de junho de 2009, promoveu um verdadeiro inquérito aos cientistas envolvidos na prevenção e controle de doenças, com ênfase na gripe A (H1N1). Destacou-se neste programa o experto Dr. Isaias Raw, presidente da Fundação Instituto Butantan que desmistificou tudo o que a mídia vem apregoando de modo irresponsável.
Frisou o cientista de muitas décadas que “as peculiaridades do vírus da nova gripe não são suficientes para causar pânico na população”, fazendo coro com outros infectologistas do calibre dos doutores Marco Aurélio Safadi (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa/SP, que sob a batuta de Antônio Ermírio de Moraes é hoje centro de referência até para transplantes e pesquisas em neurologia), David Uip (Diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas/SP) e outros. Todos, juntamente com o Ministro Temporão (Saúde) e infectologistas de todo o País referem, em uníssono, que não há razão, no momento, para alarde, e que o adiamento do início das aulas foi uma decisão precipitada.
Prova cabal de que o pânico é provocado pela mídia é o fato de ela mesma ser capaz de neutralizá-lo quando quiser e se lhe aprouver. Temos dois exemplos irrefutáveis desse fenômeno: Harry Potter e Dia dos Pais. Este último levou alguns milhões de pessoas nas duas últimas semanas, em especial no domingo passado, a lotarem “shoppings” e restaurantes.
Domingo passado (09/08) houve filas intermináveis às portas de restaurantes para onde os comensais migraram em bandos, submetendo-se a filas de até duas horas, para celebrarem o dia do papai. Se risco havia nesta orgia gastronômica era de infarto, derrame, intoxicação alimentar etc. E ninguém ligou para nada disso, muito menos para a “gripe suína”. E embora o suíno falecido se tenha feito presente em todas as churrascarias, isto não foi capaz de evocar o temor da gripe a ele atribuída. Mas o retorno às aulas continuou adiado.
Mais emblemático ainda é o caso da estreia mundial de “Harry Potter e o Enigma do Príncipe” que na madrugada de 14/08 levou mais de meio milhão de pessoas (564 mil), adolescentes e seus pais na maioria, aos cinemas, dentro de “shoppings” nas mais das vezes, em todo o País, fechando o dia mundial de lançamento com a impressionante cifra de 104,03 milhões de dólares. Nos EUA o faturamento nos cinco primeiros dias atingiu 159,7 milhões de dólares. No “UCI New York City Center” que, apesar do pomposo nome norte-americanizado fica na Zona Oeste do Rio de Janeiro, reuniram-se 1.060 pessoas nessa madrugada.
A GAROTADA TODA CARACTERIZADA DE ALUNOS DE HOGWARTS (a escola de magia que não prorroga as férias...nem sob as ameaças sinistras de Lord Voldemort). E NENHUMA MASCARAZINHA CIRÚRGICA!!!!??? Cadê o medo da gripe que justificou o adiamento do retorno às aulas? O mesmo temor que justificou a determinação da Dra. Juíza Giani Maria Moreschi quanto à obrigatoriedade do uso de máscaras pelas torcidas do Santos e do Coritiba, na 4ª feira (05/08) durante o jogo, em Cascavel (PR). Todos usaram máscaras...NOS PESCOÇOS. Afinal, como se vai xingar o árbitro com máscara tapando a boca?
Quem perde com tal medida?
Os alunos (principalmente das séries que são “bocas de concursos”), os professores que terão que se desdobrar para levarem os conteúdos “desprogramados” a termo e os sempre esquecidos (daí continuarem excluídos) alunos pobres que dependem, literalmente, da escola para sua alimentação. Sim, eles existem...e não são poucos! Daí a observação dos jornalistas de “Carta Capital” (12/08/09; fls.34) : “Talvez eles não peguem gripe, mas certamente alguns correm o risco de morrer de fome”.
Quem ganha com o pânico?
Donald Rumsfeld...ele mesmo, o ex-secretário dos "Georges Bushes"(pai e filho), Senhor das Guerras do Petróleo (a do golfo e a do Iraque) e um dos maiores acionistas do grupo proprietário do Laboratório Roche, que detém a patente da fabricação do pró-fármaco fosfato de oselatmivir (Tamiflu). Mesmo não havendo unanimidade dentre os farmacologistas e virologistas sobre o grau de eficácia do produto (porque só se transforma em antiviral depois de processado pelo fígado quando se converte em carboxilato de oseltamivir...daí a discussão), os médicos temerosos de serem processados optam pelo que os estadunidenses chamam de “medicina preventiva”, quer dizer, “é preferível pecar pelo excesso do que pela falta”.
Resultado: a “holding” Roche que vinha amargando baixas no valor de suas ações desde 2008, viu as mesmas subirem mais de 20% quando a Organização Mundial da Saúde acendeu o nível cinco do alerta de pandemia em junho deste ano. E continuam subindo, uma vez que o mercado é fatiado e as gigantes produtoras de vacinas (GlaxoSmithKline e Novartis) só entrarão em cena no início de 2010. É como disse o conhecido infectologista britânico, Dr. Tom Jefferson ao periódico alemão “Der Spiegel” : “Há muito dinheiro envolvido; e influência, e carreiras e instituições inteiras”.
Quando o festim da vacinação começar, a União Européia estima gastar 10,5 bilhões de reais, os EUA cerca de um bilhão de dólares. Desconheço quanto o Presidente Lula irá investir nessa guerra de titãs da indústria farmacêutica, o valor que as propinas de sempre atingirão. Mas uma coisa é certa, tanto lá como aqui, os bilhões de reais, dólares e euros sairão dos sistemas públicos de saúde.
E de nada terá adiantado os alunos voltarem mais tardiamente aos bancos escolares, pois no dizer do respeitadíssimo infectologista Dr. Esper Kallas (USP): “Como outras aglomerações não foram levadas em conta (‘shoppings’, estádios de futebol, metrô etc), o impacto da prorrogação das férias vai ser mínimo”. Eu diria nulo! Aliás, todos os virologistas minimamente interessados sabem que haverá outra onda de gripe A, haja vista isto ser monitorado no Brasil e no mundo, desde 1996. O que as autoridades de saúde pública fazem com as informações é outra coisa! E como destaca o Dr. Dráuzio Varella, “...é absolutamente impossível afirmar se uma nova onda de gripe A seria menos ou mais letal”.
PS: Se alguém der uma espiadinha na postagem anterior (SOBRE MÍDIA, GRIPES E PORCOS) verá que falei das citocinas. Aquelas substâncias liberadas durante infecções virais e que fazem parte da resposta imunológica do indivíduo infectado ao vírus. Pois é, já tem médico curando paciente suspeito de estar infectado com a gripe A, utilizando cortisona. O maior dos imunossupressores!! Que coisa!
Prof. Haroldo Nobre Lemos...num de seus dias.
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