sábado, 28 de fevereiro de 2009

Santo de casa faz milagre?

Quando Monsenhor Ratzinger virou Bento XVI, muitos italianos e alguns turistas foram aos berros para as ruas pedir a canonização de João Paulo II. Quase não deram bola para o fato de a Igreja Católica ter ganhado um novo chefe. Aqui mesmo nas Terras de Santa Maria, não foi sem esforço que muitos párocos foram homeopaticamente empurrando o bávaro, com suas olheiras soturnas e cara de antipático, pela goela dos fiéis que insistiam em não tirar da lembrança o finado João Paulo. E a esmagadora maioria dos que são, ou se dizem católicos, ignora os problemas graves que ele deixou para seu sucessor. E muitos deles criados por ele mesmo.

E nem vamos esfregar sal em velhas feridas, como o fato de O santo Pronto, “o santo já”, como bradava o povão, ter mandado o cardeal francês suspender de imediato a auditoria nas contas do Banco do Vaticano, a investigação acerca da evaporação de 250 milhões de dólares que envolvia o Banco Ambrosiano, a Loja Maçônica PII e a Velha Camorra (a máfia tradicional do sul da Itália).

Tal como fora determinado por João Paulo Primeiro (aquele que tomou um chazinho pra dormir...e dormiu pra sempre)! E também vamos esquecer que ele canonizou em tempo recorde, tornou santo, José Maria Escrivá de Balaguer y Albas que, entre outras “qualidades”, era o fundador do Opus Dei (1928), um antro de fascismo, e amigo íntimo e sócio de Francisco Franco.

Ele mesmo, o Generalíssimo Franco, ditador da Espanha que na sangrenta Revolução Espanhola, pediu, em maio de 1937, ao seu amigo Adolf Hitler que mandasse sua poderosa Luftwaffe despejar toneladas de bombas sobre a cidadela basca de Guernica, matando centenas de pessoas, a maioria camponeses com suas famílias.

Isso serviu de treino para os alemães que invadiriam a Polônia dois anos depois, dando início à Segunda Grande Guerra. E o tal do Zé Maria Escrivá pôs gente dele, isto é, os chamados “numerários” do Opus Dei, tais como o Geraldo Alckmin em nossos dias, em dezenas cargos de poder. Eram tantos que o Ministério da Educação passou a ser chamado de Monastério da Educação.

E nem vamos pensar nas relações entre a Igreja Católica de Roma e a do Oriente (Ortodoxa), na evasão dos fiéis na França, nos padrecos pedófilos dos EUA e seus bispos acobertadores, nos denominados “abusos litúrgicos” dos pentecostalistas da renovação carismática e na baboseira intitulada diálogo interreligioso, que até hoje ninguém sabe o que é. Será que é a falação que rola nas reuniões do condomínio onde moro? Afinal, sai abobrinha pra todo lado...e tem judeu, católico, muçulmana com véu e tudo etc. A macumbeira se mudou no ano passado. Mas não por razões religiosas.

Digressões a parte, o Papa resolveu depois de muito lero-lero desexcomungar os seguidores do Mosr. Marcel Lefebvre que se recusou a acatar as normas emanadas do Concílio Vaticano II (1962-1965), a aceitar o Novus Ordo Missae, de Paulo VI, isto é, o ritual litúrgico que se pratica hoje. Lefebvre queria que se mantivesse o rito estabelecido no concílio de Trento (1545-1563), daí chamar-se Rito Tridentino. Aquela missa falada em latim na qual o padre fica de costas para a assembléia.

Ele fundou a Sociedade São Pio X, formou uma porção de padres e “entornou de vez o caldo” quando sagrou, juntamente com o Arcebispo Emérito (aposentado) de Campos dos Goytacazes (RJ), Dom Antônio de Castro Mayer, quatro bispos. Aí a coisa ficou feia , pois essa é, segundo o Direito Canônico e pelo fato dos bispos serem considerados os sucessores dos apóstolos, uma prerrogativa do Sumo Pontífice. Esses quatro eram : o suíço Bernard Fellay, o francês Bernard Tissier de Mallerais, o espanhol Alfonso de Galarreta e o inglês Richard Williamson (foto).

O resultado era esperado e essa galera foi toda excomungada em julho de 1988 por João Paulo II, o “santo pronto”. Muita água rolou por debaixo dessas pontes góticas e obscuras até que, recentemente, Bento XVI suspendeu a excomunhão dos lefebvristas desobedientes em 24 de janeiro passado. Quer dizer, dos que estão vivos, óbvio. Mas não os reintegrou totalmente como a mídia tem feito parecer.

Isso ainda vai levar tempo, sobretudo depois que o tal Williamson, em assumidíssima posição antissemita, declarou aos quatro ventos que o holocausto perpetrado pelos nazistas em seus campos de extermínio, simplesmente não ocorreu! Afirmou que iria rever as fontes históricas! Nem pretendo perder tempo com suas microcefálicas declarações ao periódico Der Spiegel que acabaram fazendo a Primeira Ministra da Alemanha, Angela Merkel, perder a linha.

Williamson conseguiu seus 15 minutos de fama globalizada, enfureceu o povo judeu, irritou o governo alemão, estarreceu dezenas de historiadores e pesquisadores em todo mundo, judeus e não-judeus, e, é claro, com grande alegria, atormentou o Papa Bento, quer dizer, o mesmo Cardeal Ratzinguer que comandou seu processo de excomunhão, quando era o lugar-tenente de João Paulo II.

A partir de tamanha parvoíce, a mídia impressa, televisiva, radiofonizada e internáutica transformou as palavras do Cardeal-Débil-Mental em matéria para umas duas semanas. É que ele esqueceu, ao fazer um charmezinho do tipo “não irei a Aschwitz” (Der Spiegel em 10/02/09), as palavras de Bento XVI, em 2006, quando visitou este que foi um dos piores campos de genocídio de Hitler. Disse ele: “...Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou Deus silencioso? Como pôde Deus permitir este infindável massacre, este triunfo do mal?...”.

Nesta época, à guisa de informação, lembro que quem melhor explicou esta atitude meramente humana de Sua Santidade, foi aquele que ele baniu junto com sua teologia (Teologia da Libertação) quando era o Cardeal Ratzinger, seu ex-aluno na Bavária e ex-frei Leonardo Boff em programa da Globo News comandado por William Waack. Agora, depois de seriamente admoestado pelos seus confrades da Sociedade S. Pio X, Williamson disse que vai pedir perdão. Mas vai pedir a quem “cara-pálida”? Que se manifestem os historiadores, afinal, dos prováveis seis milhões de vítimas do holocausto alguns milhares não eram judeus, ou não eram apenas judeus.

Há que serem somados: os comunistas, os “fracos” como os homossexuais (estes são estimados em 50.000), os estéreis, os marginalizados (até hoje) como os ciganos, eslavos, deficientes físicos e mentais, prisioneiros de guerra soviéticos, membros da elite intelectual polonesa, russa e de outros países do Leste Europeu, Testemunhas de Jeová, alguns sacerdotes católicos, sindicalistas e qualquer um que discordasse do sistema.

O pedido de perdão veio nesta 5ª feira (27/02), segundo fontes do insuspeito e taciturno Vaticano, dirigido “àquelas pessoas que ficaram ofendidas” com as declarações. Acho que o teor desse pedido lacônico de desculpas foi inspirado por São Zé Maria Escrivá. A propósito, o caro leitor conhece alguma novena, trezena ou qualquer outra forma devocional dedicada ao santo padroeiro do fascismo???

Prof. Haroldo Lemos.

Um comentário:

T o m disse...

Prof. Haroldo Lemos. Li seu instigante comentário no MundoMais e vim prestigiar seu Blog.
Abraço